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      20/11/2010 | Consciência Negra

      Hoje é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra, feriado criado em 9 janeiro de 2003 pela lei 10.639. A mesma legislação tornou obrigatório o ensino sobre história e cultura afro-brasileira nas escolas. Duas ações do atual governo petista para resgatar o papel dos negros na formação do país. O problema é que boa parte dessa história é desconhecida ou simplesmente foi contada pela ótica de quem legitimava sociedades distintas de brancos e negros.

      Tomemos como exemplo Zumbi, o herói negro que comandou o Quilombo dos Palmares — símbolo da resistência à escravatura. O quilombo era uma comunidade rebelde, formada por negros fugidos das fazendas, em luta por uma vida sem interferência dos senhores de escravos.

      A data comemorada hoje é uma homenagem à morte de Zumbi, que no dia 20 de novembro de 1695, aos 40 anos, foi degolado em uma emboscada na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco. O bandeirante Domingos Jorge Velho organizara um ano antes um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, foi totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém foi traído por um antigo companheiro e entregue às tropas do bandeirante. Seu corpo foi exibido em praça pública para semear o medo entre os escravos e impedir novas revoltas e fugas.

      Nascido em Alagoas no ano de 1655, ele foi o principal líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre montada na região da Serra da Barriga, hoje no município de União dos Palmares (AL). Fala-se em até 30 mil pessoas morando no local.

      Mas até hoje se escreve e se ensina alguns fatos sobre Zumbi que não condizem com a realidade. Muito pouco se sabe sobre a vida desse herói negro. “Os que escreveram sobre Zumbi o fizeram de segunda mão e sempre de um ponto de vista contrário aos lutadores pela liberdade”, observa Pedro Paulo Funari, que foi diretor do Projeto Arqueológico Palmares e é coautor do livro Palmares, ontem e hoje, da pesquisadora Aline Vieira de Carvalho.

      Muita lenda foi criada em torno de Zumbi, como a de que ele tinha uma formação aprimorada, como seminarista, por meio da qual ele teria até mesmo aprendido latim e as técnicas de guerra dos romanos antigos, ressaltam os pesquisadores. Aline explica que sabe-se pouco sobre a figura de Zumbi porque os documentos de época que falam do quilombo não se preocuparam prioritariamente em registrar a biografia dos moradores. Outra inverdade contada por alguns livros de história ainda usados é a de que Zumbi era um líder centralizador, um grande chefe militar. Os registros sobre a comunidade são de que ele era sim um homem do povo, um líder popular. “Mal comparado, e muito mal, um Lula da época”, diz Funari.

      Como podemos resgatar a importância do negro na história brasileira, se sequer conhecemos esses heróis e quais foram suas contribuições para o país?

      Faça um teste e pergunte para dez jovens estudantes se eles sabem quem foi Francisco Glicério — sim, aquele que dá nome à avenida — e qual era sua cor de pele. Sem medo de errar, estou certo que se dois souberem que Francisco Glicério de Cerqueira Leite, nascido em 1849, em Campinas, foi um negro e importante republicano, braço-direito de Marechal Deodoro da Fonseca na Proclamação da República, em 1889, terá sido muito.

      Mais do que feriados, datas comemorativas, é preciso que se resgate a história perdida do Brasil colonial e se promova a inclusão efetiva dos negros na sociedade. Só como exemplo, o país tem atualmente cerca de 22 mil negros matriculados em faculdades públicas, só 1,7% do 1,2 milhão de alunos da rede pública de ensino superior.

       

      Publicada em 20/11/2010
      Opinião - Correio Popular
      Memória
      Ricardo Brandt
      ricardo.brandt@rac.com.br



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