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      19/02/2022 | Sérgio Caponi - Não gosto da verdade

      Sérgio Caponi

      Não gosto da verdade

       

      "A mentira é paciente, eficiente, não se vangloria, não se orgulha, não se envaidece"

      Agora, que "fake news" é moda, tornei-me adepto da mentira.

      A mentira é suave, benfazeja, pacífica, ordeira. A mentira, ao contrário da verdade, acalma, constrói, congrega, embriaga.

      A mentira é paciente, eficiente, não se vangloria, não se orgulha, não se envaidece.

      Ou seja: a mentira é a felicidade modesta! (Ou quase!).

      Eis porque não me afino aos que combatem "fake news", verdadeiros dependentes psíquicos de verdades pra continuar respirando.

      Percebo, porém, na exatidão excludente do real tangível e, até, do intangível presumido, um desgaste desnecessário que corrói a alma, desmorona sonhos, desilude, desaponta, já que tudo é substancialmente mentira.

      Por que tirar a inocência das coisas? Deixemo-las como estão, desabonadas da verdade. Afinal, nada muda nem deixa de mudar por convicção nossa. Não seremos nós que haveremos de alterar a definição de tudo. (Nem, sequer, somos definitivos!).

      O amigo já olhou seus dedos dos pés? Vislumbrou onde termina nossa subjetividade objetiva?

      Pois é: melhor mudar de assunto...

      Mas não imagine o leitor que queira roubar-lhe a inocente alegria de viver e de se enganar. Não é isso. Até pelo contrário. Sou eu, e não os paladinos da verdade, quem oferece o saboroso banquete das ilusões. Faço isso desinteressadamente, como um benefício que disponibilizo aos que se me assemelham.

      Mesmo assim, tenho colecionado desafetos da frugalidade de minhas convicções. Gente que não se conforma com dúvidas e incertezas. Uma pena: só estou tentando ajudá-los!

      Quando, por respeito à ingenuidade universal, refiro-me à mentira como um bem, não intento desafiar os galantes paladinos da miopia metafísica e das verdades mal sabidas. (Não para um duelo em que eles escolham as armas!).

      Assim é que, não raro, aparece alguém que me atormente causticamente, levado, bem sei, por impulsos inconscientes, irreprimíveis emoções e frustrações, senão pela revolta de ver seus interesses e seu mundinho de crenças e avenças, de vaidades e egocentrismos, quando não de anomalias psíquicas em perigo de desabamento. Coisa natural ligada ao pânico e ao instinto de conservação, é bem verdade, (particularmente se em facções ideológicas e torcidas de futebol!). Agem como se meu desaponto em relação ao que lhes afigura indubitável ameaçasse a própria integridade física, como se o "agora nóis" pelo qual pelejam fosse carne de sua carne e ossos de seus ossos, em cuja defesa, tudo é válido: inclusive mentir, mesmo que em contraste com seus discursos apologéticos.

      Eis a fonte das "fake news", verdadeiro trunfo tático dos "malandrocratas": distorcer a semântica e a verdade, (atual e histórica) em prol da pós-verdade conveniente. (Malandocracia, segundo o filósofo Bezerra da Silva, é a face não "fake" da otariocracia).

      Quer ver?

      Imagine que se funda um partido político chamado "Maioria".

      Não ria, leitor?

      Não é piada. Foi exatamente assim que nasceu o comunismo na Rússia Czarista de pouquíssimos operários e infinitos camponeses analfabetos que não sabiam nada de nada, (foice e martelo é "fake", amigo!). Um grupo de malandros e quintas-colunas pegou um trem em Berlim com quarenta milhões de "goldmarks" alemães fornecidos pelo inimigo Bismark, (interessado em calar a frente oriental), viajou para Moscou e se autodenominou "Maioria", (bolscinstvó para russos: bolchevismo para os íntimos). Verdadeira obra prima do "malandrocrata" Vladimir Lenin. Lembra-se dele? Aquele que após a burrada de Brest-Litovsky virou múmia na Praça Vermelha para impor regras de vestimenta às visitas femininas. Ele mesmo: o que com ajuda do outro malandocrata Trotsky mandou seis milhões para o cemitério e, de quebra, assassinou a família imperial sem poupar as princesas adolescentes nem o menino hemofílico, Alexei. Um horror de pessoa! (Pior, só Stalin).

      Mas a mentira deu maquiagem ao crime. Hoje Lenin é um herói para as esquerdas e os Romanof defuntos execráveis, criminosos natos que erraram o nascimento.

      Mas imagine um discurso na Duma (parlamento russo) onde a "Maioria" decidiu-se pelo comunismo: uma piada!

      Mas isso passa batido...

      Como passa batido afirmar que o único genocida da História, (além do famigerado capitão sem máscara que fala mais que a boca, é claro), foi o maluco do Hitler com seus seis milhões de assassinatos. E os 300 milhões mortos pelos comunistas?(Se ser nazista é crime, ser bolsonarista, "execrável", então ser comunista carregando nas costas esses defuntos e propondo ditadura de partido único é muito pior...)

      Quer ver outra "fake" famosa? A cara do D'Artagnan de araque Che plantada nas camisetas de desinformados. Um matador a sangue frio de pelo menos 2500 desafetos, (homossexuais e opositores). Ao fim da façanha, confessou estar gostando de matar!

      (Mas isso tudo deve ser "fake", já que tachar de "fake" é o argumento de quem não tem argumento!).

      Como se vê, a verdade não interessa a todos. Particularmente aos algoritmos de inteligência artificial da internet que patrulham 24 horas por dia o subconsciente coletivo. Eis como a mentira ganha asas e vira verdade na cabeça do povo. Eis também porque tem tanto simplório militando inconscientemente contra os próprios interesses e contra os interesses do Brasil.

      O povo, infelizmente, gosta de ser enganado. (Basta dar uma olhada nas pesquisas eleitorais verdadeiras e falsas). Pior só se alguma alta autoridade aparecesse na TV limpando CPUs da década de noventa com a manga do paletó e dizendo – "La Garantia soy yo".

      Novamente: não ria leitor... Particularmente se souber que alguma corte metida a Corte Imperial pratica o Poder Moderador Absoluto em plena República.

      Mas se você é uma daqueles que não largam o celular nem para tomar banho, não fique triste. A pós-verdade está ao alcance de sua mão.

      Vá se acostumando: você já está quase lá!

      Logo vai se convencer de que melhor, mesmo, é a cleptocracia, que os valores morais e culturais tradicionais estão ultrapassados, que religião é ópio do povo, que o autoritarismo judicial monocrático é uma boa, que o mundo é assim mesmo, que não existe político honesto, que sua vida era muito melhor antes e que a liberdade não serve pra nada.

      Aliás, se não gostou do meu texto, se o acha demasiado verdadeiro, minta pra si mesmo: diga que dá pra engolir, apesar dos pesares e das "fakes". Não precisa me atacar na Coluna do Leitor.

      Eu acredito em você, mesmo que minta. É pra isso que servem as "fake news".

      Ou será que isso também é "fake"?

       

      Sérgio Caponi

       

       

      Sérgio Caponi - Não gosto da verdade  18-2-22 - Portal RAC

      Publicado 18 de Fevereiro de 2022 - 9h08

      https://correio.rac.com.br

       





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