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      02/05/2010 | Joaquim Zailton Bueno Motta

      Romance: o sexólogo, psicoterapeuta e escritor Joaquim Zailton Bueno Motta diz que os adultos também se deixam seduzir pelo jovial “ficar”

      Tem gente cuidadosa que se reúne com frequência para discutir as antigas e novas formas de amar, como o psiquiatra, psicoterapeuta e sexólogo Joaquim Zailton Bueno Motta, coordenador do Grupo de Estudos sobre o Amor de Campinas (GEACamp) há dez anos. Articulista do jornal Correio Popular também há dez, ele escreve aos sábados sobre sexualidade e sentimentos, e ainda tem um quadro no programa Casual, no canal 8 da Net (vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 22h, e aos domingos às 18h30). Já publicou sete livros e no momento revisa o oitavo. Também participou de coletâneas e outras publicações.

      Palestrante e congressista de eventos nacionais e internacionais, Motta foi um dos primeiros especialistas a observar as relações virtuais quando a internet ainda engatinhava. Constatou, por exemplo, que muitas pessoas ficam no virtual muito tempo, com medo do real, quando o melhor seria arriscar logo. “Antes uma frustração sem delongas, curta e grossa, do que um sofrimento longo e pesado”, avalia. Acha que o amor romântico não está com os dias contatos, como apostam alguns especialistas, a não ser o amor romântico machista, muito idealizado, em que os pares se fundem. Depois de dois casamentos e duas separações, vive com “uma companheira admirável” há sete anos. Tem três filhos e um neto.

      Metrópole - Como o senhor avalia o fato de a mulher moderna conseguir, tanto quanto o homem, separar sexo de amor? Ambos vão à caça, por assim dizer?

      Joaquim Motta – Realmente, a mulher está conseguindo separar sexo de amor. Não é fácil, muitas delas não conseguem, mas as que experimentam sem grandes conflitos estão aproveitando. Seria como, além de ajudar o parceiro a colocar o preservativo genital, ter que usar uma camisinha no coração. Simplificando, a mulher pode caçar igual ao homem, mas ainda predomina a iniciativa masculina.

      Mesmo quando faz sexo casual, a mulher ainda é tomada pelo desejo do vínculo estável?

      Sim, o anseio pelo vínculo estável é natural na mulher. Mesmo que estejamos em um novo tempo, a cultura da igualdade e da liberdade não modifica essa tendência da natureza feminina. Essa característica é essencial para manter a raça humana, pois a ligação que a mulher promove no casal fará a base para a ligação da família.

      Há rivalidade nesse campo? Aliás, o senhor é autor do livro Amor e Rivalidade Sexual. Falta muito para um acordo entre homem e mulher?

      As rivalidades e competições são inevitáveis, mas continuam mais intensas nos gêneros respectivos. A homorrivalidade feminina compara, por exemplo, as mais belas, mais jovens, mais bem arrumadas. Já a homorrivalidade masculina compara o status, o destaque, a virilidade. Então, a heterorrivalidade é muito maior nos dias de hoje, principalmente no trabalho, nos concursos, mas não exatamente na abordagem da paquera, do chaveco. Ou seja, o cara não se compara com a moça no sentido de quem está chavecando mais, mas de conseguir ser mais chavecado do que o outro.

      O amor romântico está com os dias contados?

      Não, só o amor romântico machista, muito idealizado, em que os pares se fundem é que não se sustenta por mais tempo. Há um novo romance no ar, preservando a individualidade de cada um, mas com intenção de ser um relacionamento duradouro.

      Relações possessivas, com muito controle e exigência, em que os pares fundem suas personalidades, não mais se sustentam?

      Ainda podemos ter um par possessivo, ciumento, espionando o companheiro, mas as personalidades estão mais sustentadas e individualizadas. De certo modo, está mais preparada para um casamento a pessoa que está pronta para o divórcio.

      Há casais que se entediam menos, mas a acomodação sempre ocorre. Esse problema passa com frequência pelo consultório?

      Sim, a acomodação e o tédio perseguem os casais ao longo do tempo. O maior problema é quando os pares não namoram mais e perdem a intimidade erótica. Usam o banheiro com a porta aberta, só se arrumam quando chega uma visita, vivem como fazem os irmãos, e cada um vai esquecendo de se apresentar mais produzido, bem cuidado, para o outro. Guardam o aparelho de jantar para a noite em que receberão os amigos, quando deveriam usá-lo em um jantar íntimo e sensual, só para os dois.

      O senhor disse em um de seus artigos que “enquanto circulamos pelo universo virtual, podemos imaginar qualquer coisa, iludirmo-nos com mil fantasias, tudo sem limite ou fronteira. Quando recomeça a realidade, precisamos nos colocar dentro dela, encarar as frustrações, aproveitar as conexões que são possíveis”. A interação virtual, quando torna-se real, costuma frustrar muita gente?

      Sim, pode frustrar profundamente, ainda mais quando a pessoa insiste em permanecer muito tempo na relação virtual. No fundo, parece que ela tem uma certa convicção de que a realidade irá decepcioná-la, então estica o contato na virtualidade. Não se pode demorar para programar os encontros reais. É melhor arriscar logo, e checar se terão uma decepção ou uma curtição. Antes uma frustração sem delongas, curta e grossa, do que um sofrimento longo e pesado.

      Tem muita gente madura exercitando o jovial ficar. Como o senhor analisa a questão?

      O ficar já não é mesmo algo tão jovial. Muitas pessoas que se separaram e recomeçaram a vida de solteiros, entraram nessa onda. O ficar acompanha a liberação da mulher e da sexualidade, mesmo que seja uma espécie de sexo da cintura para cima. Os jovens sabem viver isso muito bem: são capazes de beijar por longo tempo, sem entrar em grande excitação genital. Os mais velhos não têm essa vivência, mas têm se arriscado a algum êxito, pois o ficar é um comportamento social, vivido em público. Existe também o ficar íntimo, que já corresponderia ao que dizíamos no começo da entrevista, o sexo sem amor, com preservativo sentimental.

      Sobre o Grupo de Estudos sobre o Amor, como são os encontros?

      Nos reunimos às segundas-feiras, no Tênis Clube, às 20h, durante duas horas. Em geral, temos uma pessoa que apresenta um tema por uma hora e depois debatemos o assunto na outra hora. No final costuma rolar uma happy hour noturna, em uma cafeteria.

      A traição ainda pesa ou já é mais aceita?

      Ainda pesa bastante, maltrata muito o traído. A maioria conta com o comportamento fiel do companheiro. Mas há maior aceitação. Há os casais abertos, o swing. E quando o traidor confessa, o traído também tolera mais.

      E a bissexualidade?

      Também é algo mais tolerado. Afinal, todo mundo é um pouco bissexual, pelo menos na homorrivalidade. As homorrivais femininas vão se comparando pela moda, pela beleza; os homorrivais masculinos pelo destaque profissional, pela rivalidade. Essa homocompetição não é uma homoatração, mas quase, pois o homorrival invejado chega perto do ser desejado.

      Tem algum projeto em andamento na área do amor e da sexualidade? Um novo livro?

      Sim, estou revisando meu próximo livro, que versará sobre ética, moral e amor. Penso que estamos no tempo de rever as dimensões do prazer e do pecado.

      De que forma?

      O sexo não deve ser banal, o prazer deve ser amplo. O pecado não é o sexual - com exceção de pedofilia e estupro -, mas sim o roubo, o homicídio, a corrupção.

      Acredita em que formas de amor?

      Creio em todas as formas de amor, mas é preciso amar mais e melhor, no casal, na família, na solidariedade, no regozijo, na falta. Ao invés de pedir provas de amor para quem o ama, veja se é capaz de dar uma prova de amor para à pessoa amada.


      Publicada em 2/5/2010

      Revista Metropole
      Preservativo sentimental

      Janete Trevisani
      janete@rac.com.br





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