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      22/10/2015 | Simpósio Polo Arqdec

      Simpósio Polo Arqdec pauta conceitos para a profissão de arquiteto, designer e paisagista com vistas à Indústria 4.0

      Conteúdos ricos em citações históricas, inspirações e novidades tornaram o evento referência no município de Campinas

      Com a Arena de Pedra do Royal Palm Plaza lotada, o presidente do Polo Arqdec, Sante Testa Neto abriu na manhã de 20 de outubro, a segunda edição do Simpósio Arquitetura, Design e Paisagismo “Novo Prisma Para o Futuro da Profissão". Com seis palestras, intervenções históricas certeiras do simposiarca Paulo de Tarso e momentos de descontração, o evento destacou conceitos como a importância da bagagem pessoal no processo criativo, da irreverência e da ética profissional e se fortaleceu como uma importante referência no município de Campinas, ao reunir em torno de 200 participantes. O simpósio foi realizado em sintonia com a responsabilidade social. Os serviços de papelaria e o manuseio das sacolas de brindes foram contratados do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira. A instituição de Campinas também foi beneficiada com 170 cestas básicas, doadas pelos inscritos no evento.

      Em mais de uma oportunidade, os palestrantes citaram a parceria entre profissionais com especialidades distintas como algo cada vez mais presente na elaboração de projetos e exemplificaram formas de se reinventar e delinear o futuro da profissão, frente à iminência da quarta revolução industrial (Indústria 4.0). Para o presidente do Polo Arqdec, Sante Testa Neto a associação cumpriu seu papel ao proporcionar conhecimento e apontar diretrizes sobre um segmento cada vez mais competitivo como o da arquitetura, do paisagismo, do design e áreas correlacionadas.

      Antes de anunciar o primeiro palestrante, Paulo de Tarso reforçou as palavras de Neto sobre a importância de compartilhar e buscar relacionamentos melhores, com novos ensinamentos, em um momento crítico e de transição como o que vivemos no Brasil. De acordo com ele, é necessário rever o passado, viver o presente e construir o futuro.

      O arquiteto Aldomar Caprini foi o primeiro a palestrar. Ele fez uma retrospectiva da arquitetura e do paisagismo modernos em Campinas, utilizando como figuras centrais o arquiteto paisagista Renato Righetto e o arquiteto Alberto Nassralla. A explanação – Contrastes e personalidades – pontuou a contribuição dos dois para a construção do segmento de arquitetura na cidade e levantou a discussão em torno da falta de preservação do patrimônio arquitetônico nos municípios. Righetto e Nassralla formaram-se em instituições diferentes, mas em dado momento sua trajetória profissional se cruzou e a harmonia e o respeito entre eles foi um exemplo que deve ser seguido hoje e sempre.

      Familiares dos dois ícones estiveram presentes e foram agraciados com uma placa oferecida pelo Polo Arqdec pelo reconhecimento ao trabalho dos arquitetos. Nassralla foi um funcionalista que colocava a técnica acima das questões formais, porém, mantendo a harmonia em seus projetos. Tinha o traço fácil. Desenhava no guardanapo, na areia, acordava de madrugada para desenhar. São seus os projetos dos prédios da Mesbla, C&A, Muricy, entre outros. Righetto, marqueteiro nato, teve contato com o paisagista Burle Marx durante seus estudos no Rio de Janeiro e trouxe para Campinas suas referências, passando a aplicá-las em seus projetos, que propunham uma nova forma de morar. Righetto buscava a integração do verde e abria grandes vãos em seus projetos de traços modernos e arrojados para inseri-lo de forma harmoniosa. Como parte de seu legado estão o Parque Portugal (Lagoa do Taquaral) e o Largo do Rosário, obra que teve suas características originais modificadas pelo poder público.

      Ao introduzir a segunda palestrante, a designer de joia Andrea Paes, o simposiarca ressaltou o aparato que há milhares de anos diferenciou o homem dos símios e demais raças: um colar de conchas furadas com objetivo de adornar, de se tornar diferente. A partir daí surgiu todo um significado sobre a cultura que vem transformando a sociedade.

      Andrea, que veio do Rio de Janeiro especialmente para o evento, falou sobre O design dos meus olhos. Ela destacou a importância do legado pessoal e como isso influencia no processo de criação e na forma que cada pessoa enxerga uma referência. Ao usar citar joias criadas por ela quando trabalhava em uma famosa empresa do setor joalheiro, Andrea deu uma aula sobre sensibilidade e ressaltou a importância da beleza para cavar emoções, sensações. Em sua concepção, o designer precisa colocar alma, vida em suas criações, já que elas são, na verdade, expressões individuais a partir de um ponto. Estruturas arquitetônicas e paisagísticas monumentais, como os Jardins de Pedra de Burle Marx e o Estádio Mario Filho (Maracanã), por exemplo, foram atentamente estudados e traduzidos em delicadas peças de grande apelo estético, artístico e ergonômico, consideradas símbolos de desejo e poder. Outro aspecto abordado pela designer foi a reinvenção pessoal em contraponto à acomodação que surge quando existe uma estabilidade profissional. De acordo com ela, é preciso compreender o que define a pessoa naquele determinado momento e, a partir daí, sair da zona de conforto e buscar novos desafios para iniciar uma nova história.

      Para chamar o último palestrante do período da manhã, Paulo de Tarso contextualizou o significado da palavra projeto. Do latim projectare, que significa lançar para frente, justamente o que o simpósio se propôs a apresentar.

      Marcelo Novaes, consultor de marketing de luxo, que também veio do Rio de Janeiro a convite do Polo Arqdec, apresentou a palestra Lojas conceito – o novo luxo e falou com propriedade sobre os anseios do consumidor em tempos de globalização e sobre a diferença entre luxo e o novo luxo.

      Com o advento da internet na década de 1990, diferentes tribos se conectaram e esse fluxo de informações gerou um novo tipo de consumidor, mais exigente, questionador e seletivo. Para atrair sua atenção, começaram a surgir estratégias criativas a fim de transformar o ato da compra em uma experiência única e inesquecível. De acordo com o consultor, é preciso ir além da simples comercialização, seja de joias, móveis ou outros bens. O consumir moderno busca algo a mais, uma experiência de autogratificação, um produto com valor agregado de design. Preço, atendimento e qualidade nada mais são que meras obrigações. Cada vez mais há a necessidade de se investir em lojas com ambiente criado de acordo com a identidade do produto, com toques lúdicos e que remetam ao posicionamento da marca. Daí a grande importância do trabalho de arquitetos, designers e demais profissionais.

      No novo luxo, vendedores tradicionais passam a ser consultores que contam histórias e falam a língua daquele determinado consumidor, causando empatia. A customização e a curadoria do produto, a identidade visual, a narrativa e a circulação interna são fatores que passam a ser mais importantes que o simples emprego de materiais nobres.

      Exemplos disso são a loja da Apple na quinta avenida, em Nova Iorque, que por suas características se tornou icônica. A loja das Havaianas, na rua Oscar Freire, em São Paulo, concebida de forma que um arco-íris de sandálias conduz o consumidor ao final da loja, e a loja da Nike, em Paris, montada em uma antiga livraria e que utilizou a memória do bairro, preservando intactas todas as características da edificação – inclusive seu nome na fachada – e que se destaca justamente pelo ineditismo, pela surpresa.

      Na parte da tarde, outro Marcelo Novaes, arquiteto e paisagista de Campinas, foi chamado ao palco e esmiuçou o tema Jardins: ontem, hoje e sempre.  Por meio da apresentação de alguns dos seus mais importantes trabalhos e exemplos de projetos no Brasil e no exterior, ele destacou recursos paisagísticos que vieram para ficar, como os jardins verticais, os telhados verdes e a nova concepção das piscinas que passam a ser elementos centrais em um projeto de arquitetura paisagística, ganhando borda transbordante, nichos, formas orgânicas, decks molhados e SPAs.

      Com o paisagismo em seu DNA, Marcelo Novaes explicou a importância de diferentes recursos na composição de um projeto capaz de despertar a curiosidade, como os aromas, as diferentes cores, o barulho de água e até os pássaros. Como a arquitetura paisagística é construída pelo tempo o paisagista precisa enxergar o futuro de forma diferente para que o jardim seja ao mesmo tempo sustentável, lindo e surpreendente, independente da estação do ano e apesar do passar dos anos. Além disso, o recurso do paisagismo é um grande aliado na hora de esconder um muro, promover privacidade ou fazer uma integração entre duas áreas distantes.

      Exemplos do que propõe o paisagista são o Gardens by the Bay, em Cingapura, com suas super árvores, gigantescas estruturas de aço com as laterais recobertas por plantas e que formam uma espetacular imagem, além de possibilitar o uso sustentável dos recursos naturais, como recolher água da chuva e conter células fotovoltaicas que permitem também acumular a energia elétrica utilizada no final do dia em na iluminação do parque. Outro projeto que exemplifica a arquitetura paisagística é a avenida Mackenzie, em Campinas. A obra envolve 1800 ipês, rosas, primaveras e mais uma infinidade de espécies que florescem em épocas distintos, formando impactos visuais diferentes. A via, recentemente inaugurada, passou a ser uma área de lazer, graças à sua característica convidativa e contemplativa.

      Para o mediador Paulo de Tarso, existe a necessidade de se enxergar no Brasil que parques e jardins, como os de Cingapura e outros pelo mundo, constituem um legado capaz de atrair milhares de turistas e mudar a vida de uma cidade e de o poder público passar a investir mais nesses espaços.

      O potencial turístico de projetos paisagísticos e arquitetônicos, bem como de eventos do porte do Simpósio Polo Arqdec, que atraem participantes de diversas localidades, foi destacado também pelo diretor do Campinas e Região Convention & Visitors Bureau, Fernando Vernier. De acordo com ele, o setor constitui um importante atrativo para a cidade.

      Com uma grande dose de irreverência, o arquiteto e designer gaúcho Henrique Steyer assumiu o microfone na sequência e provocou a plateia com sua apresentação aberta com um vídeo do show da cantora Madonna no Brit Awards 2015, quando caiu do palco devido a um nó não defeito em sua capa – assinada por Giorgio Armani – e recheada de imagens de nus frontais, sexo e violência. Sua palestra Design inusitado – do céu ao inferno, propõe uma ampla discussão acerca do certo e do errado; do irreverente e do tradicional, do previsível e do imprevisível, do velho e do novo. Steyer utiliza o questionamento, o inusitado, o preciosismo dos detalhes e a criatividade para elaborar seus trabalhos, reconhecidos mundialmente. Se não há uma obra de arte adequada a determinado ambiente ele propõe que se crie um artista plástico fictício para fazê-la.

      Na visão de Henrique Steyer nada é proibido. Ele criou uma série de quadros intitulada What if? retratando personalidades do mundo todo com a pele negra, para promover um olhar profundo para as questões de intolerância racial. Criou também uma obra que mostra a Pietá de Michelangelo com uma tarja nos olhos e imagens minúsculas de sexo aos seus pés; utilizou mictórios antigos revestidos de dourado para um evento em uma loja conceituada e assinou um hall de entrada de uma mostra de arquitetura, no qual forrou parte das paredes e piso com miniaturas de nádegas de homes e mulheres. Essa assinatura impactante e provocativa do arquiteto também está presente nos mobiliários que desenha e que fazem sucesso no Brasil e no exterior, como as estantes Zig Zag, Onça e Niño e o banco Macaco, inspirado na fauna brasileira. Todos com forte rigor construtivo e ergonômico. Henrique Steyer, assim como Andrea Paes, busca se reinventar. Agora, sua mais nova empreitada é no universo das joias, com o lançamento de uma coleção inspirada nos móveis que criou.

      A última a palestrar foi a arquiteta Fernanda Marques, que fez uma retrospectiva de suas principais obras de arquitetura, interiores e design, situando pontos chaves do seu processo criativo e da interação com seus clientes. A casa Limantos, construída por ela em um terreno muito íngreme em São Paulo, que evoca a arquitetura racionalista de Mies van der Rohe e parece estar imersa na paisagem e o apartamento Barbizon, em Nova Iorque, que traduz a vida de um brasileiro naquela cidade americana, a partir de uma perspectiva contemporânea foram alguns dos exemplos. Andrea pontua como características de suas obras a integração das áreas interna e externa, a utilização de elementos quentes, como a madeira, e frios, como o vidro, resultando em uma decoração minimalista e contemporânea, mas, sem abrir mão do aconchego. Seus trabalhos ilustram de forma brilhante como trabalhar grandes espaços com acabamentos não necessariamente muito requintados.

      Em sua busca constante por soluções de acordo com a necessidade do cliente, Fernanda Marques finalizou sua apresentação com os bancos Geomorph e Organic, que marcam o início das pesquisas da arquiteta para a utilização de aço inoxidável na produção de móveis de design contemporâneo, o que leva à vinculação de seu trabalho com a arte cinética e suas reflexões sobre a natureza fixa do mobiliário. Desse modo, Fernanda também atua desenhando mobiliário como uma peça que, fechada, é uma estante para ocasiões formais e aberta transforma-se em um bar mais descontraído.

      Como bem explicou o simposiarca Paulo de Tarso, as palestras sinalizaram o futuro e as mudanças que ocorrerão – e que já estão ocorrendo – no segmento de arquitetura, paisagismo, design e afins com a iminência da quarta grande revolução industrial, a da Internet das Coisas, que hoje é um conceito, mas deve se tornar realidade em breve. A chamada Indústria 4.0 vai modular o trabalho dos profissionais assim como ocorreu nas três primeiras revoluções. As transformações da sociedade terão impacto direto sobre a atuação do segmento e os profissionais de arquitetura, designer e paisagismo precisam estar aptos a dar essa resposta com rapidez. “Mas, nunca poderemos abrir mão do raciocínio e do desenho na ponta do lápis. O computador deve ser uma ferramenta a mais”, completa.

       

      Foto: Miro Martins

      Arena de Pedra do Royal Palm Plaza recebeu aproximadamente 200 participantes





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