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      11/07/2011 | A maldição de Carlos Gomes

      Todos nós sabemos, ou deveríamos saber, que o nosso querido compositor, quando retornou ao Brasil, não pode se fixar em sua terra natal, pois aqui não o queriam. Pelo fato de Campinas ser um reduto republicano não seria aconselhável ter por perto um tão ilustre simpatizante da monarquia. Nada a estranhar, pois como se sabe, Carlos Gomes só conseguiu ir estudar na Itália graças ao apoio recebido do Imperador D. Pedro II.

      Nosso querido maestro foi recebido em Belém, no Pará, lugar que o acolheu até vir a falecer, tempos depois.

      Pois bem, pelo jeito esta ação não foi sem consequência, pois a maldição começou aí. Desde então Campinas não decola culturalmente. Basta lembrar que aguarda há 44 anos por um teatro digno do genial músico que esta cidade viu nascer.

      Acredito que somos a única cidade no mundo que foi capaz de destruiu um teatro para nada construir em seu local.

      Para não deixar a cidade sem este local de cultura, nos anos 70 resolveram transformar um velho cinema em teatro. Esta solução resolveu o problema temporariamente, mas mesmo esse velho cinema já não funciona mais, pois está em obras há mais de três anos e não sabemos se voltará um dia a funcionar. Mesmo que volte, nunca passará de um velho cinema transformado.

      Em qualquer lugar do planeta, uma cidade de mais de um milhão de habitantes tem uma política cultural consequente com sua importância. Aqui, porém, grassa a tal maldição nada parece prosperar.

      Quem seria a pessoa que quebraria essa maldição? Músicos famosos, nós possuímos. Personagens ilustres e cabeças esclarecidas, não nos faltam. Mas, mesmo assim, o cenário não muda.

      Mas o fato é que a coisa está neste pé. Não temos onde apresentar as óperas de nosso ilustre músico, pelo simples fato de não darmos a ele o valor que ele merece. Carlos Gomes estará para sempre condenado a ser simplesmente o nome de uma praça, um colégio, um conservatório ou sabe-se lá mais o quê. Não temos nem mesmo onde comprar gravações de suas obras, pois simplesmente não existem, nem mesmo gravações piratas nos prolíferos camelódromos da cidade.

      Carlos Gomes só não desapareceu por completo graças a alguns nobres campineiros que diariamente cultuam suas obras, realizando um trabalho de resistência, evitando assim que esta caia no esquecimento, pois nem mesmo o festival a ele consagrado é acessível a todos. Boa parte da população, senão a imensa maioria, ignora esse evento. Além do mais, este deveria ser um acontecimento nacional e internacional, dada a importância do homenageado.

      A história da relação de Campinas com Carlos Gomes daria um enredo perfeito para uma peça de Ionesco, mas o grau já passou em vários níveis o absurdo, que estamos já no patamar de um roteiro de horror.

      Infelizmente, poucas são as pessoas neste País que têm consciência da importância da cultura, que muito mais que um simples lazer, é na verdade um direito humano. Um homem bem alimentado e com boa saúde nunca será um homem completo sem um grau decente de cultura. Quer se queira, quer não, com o respeito devido, este pobre ser pouco diferirá de algo potencialmente humano com alto grau de adestramento.

      A situação cultural de Campinas me faz pensar na história do mendigo que, sentado sobre uma pedra de ouro, pede esmolas, pois não sabe o que fazer com essa pedra dourada.

       

      Publicada em 12/7/2009

      Opinião Correio Popular
      A maldição de Carlos Gomes

      Marcos Garcia é artista plástico, presidente da Associação Museu de Arte Moderna de Campinas e vice-presidente do Conselho de Cultura de Campinas

       

      Enviado pelo Guardião da Cultura de Campinas em 11/07/2011

      José Edurado Gagliardi Florence Teixeira

       



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