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Conhecimento desperdiçado e o conflito de gerações mal resolvido nas empresas
José Roberto de Siqueira
Embora valorizem o conhecimento e a experiência dos profissionais sêniores para a empresa, as organizações ainda não desenvolveram práticas capazes de aproveitar esse potencial do profissional maduro em equipes com profissionais de outras gerações, especialmente as mais jovens. Só 16% das empresas têm atividades específicas para integração dos profissionais de diferentes gerações. E apenas 14% das companhias promovem atividades de gestão de conhecimento com profissionais sêniores, como mentoring, tutoria e coaching de alto nível.
A grande maioria das organizações enfrenta alguns dilemas com relação a convivência de pessoas de diversas gerações no ambiente de trabalho, pois possuem valores, educação, formação e objetivos distintos. Em qual delas eu me encaixo? Como conviver com este cenário? Como manter as lideranças atuantes num ambiente tão heterogêneo?
Geração Baby Boomers – Nascidos durante a década de 40, num clima de ditaduras ao longo do mundo e guerras, cresceram num ambiente repressivo cujas manifestações de insatisfação ocorriam, principalmente, através de festivais musicais, como, por exemplo, Woodstock, nos Estados Unidos, que marcou toda uma geração. No campo profissional, sempre buscaram construir uma carreira consistente, com alto grau de resistência à mudanças e fidelidade às organizações onde, em geral, permaneceram por muito tempo. São pessoas que aliam conhecimento e experiência. Muitas empresas têm nesses profissionais conselheiros ativos ou mentores eficientes, que auxiliam na formação de novos líderes.
Geração X - Nascida após os Baby Boomers, entre o início dos anos 1960 e o final dos anos 1970, é uma geração marcada por vários eventos sociais e políticos, principalmente num momento de transição entre a ditadura e a democracia. Conviveu com diferentes momentos de crise política global e nacional, períodos de alta inflação, diferentes planos econômicos e diferentes moedas. Por essa razão, sempre buscou acúmulo de patrimônio para momentos de crise. São profissionais com alto grau de comprometimento com a organização. Porém, muito apegados a status, títulos e cargos. Em geral, resistentes às novas tecnologias e pouca vocação a inovação. Com alto grau de organização, disciplina e visão estratégica.
Geração Y – Conhecida também como Millennials, nascida entre o início dos anos 1970 e o início dos anos 1990, num ambiente mais democrático, sendo a primeira geração verdadeiramente globalizada capitaneada pelo surgimento e crescimento da internet e pela consciência da sustentabilidade ambiental. No âmbito profissional, é uma geração que se identifica com os valores da organização, impulsiva, imediatista, questionadora, focada na busca pelo reconhecimento e a realização pessoal, sendo movida por constantes desafios. É mais irreverente, mas nem por isso deixa de ter comprometimento com o sucesso profissional. Em menos de 10 anos, esta Geração representará 75% da força de trabalho mundial. Isso requer muita atenção das empresas na formação desta liderança.
Geração Z - Também conhecida como Centennial, nascida na década de 90 até 2010, é a geração conhecida como nativa digital, composta por pessoas preocupadas, cada vez mais, com a conectividade e com os demais indivíduos. Tem uma visão diferente do mundo, pois sua relação com o tempo é baseada na velocidade da informação online. Esta Geração é colaborativa e tem mais dificuldade em lidar com hierarquias e autoridade. Por isso, tem uma enorme vontade de empreender, haja visto que os grandes números de startups pertencem a essa geração. Para as pessoas dessa geração, as nomenclaturas dos cargos não interessam. Mais importante do que a posição, é o caminho até ela, a oportunidade de crescimento profissional. Buscam em seus líderes com valores como ética, honestidade e integridade
Portanto, como atender os diferentes valores e interesses de forma positiva no ambiente empresarial?
Sempre acreditei que a melhor resposta a essa pergunta é a integração, a fusão da sabedoria e do conhecimento com a tecnologia, capacidade inovadora e criativa que as organizações possuem como ativos importantes e competitivos.
As diferenças de atitude, visões e velocidade no trabalho devem ser valorizadas e incentivadas dentro de uma nova realidade que se coloca.
Inicialmente, as pessoas devem conhecer os valores, a missão e a visão da empresa, e quais são seus objetivos estratégicos, cada nível ou geração à sua maneira, de acordo com as funções que cada um exerce na estrutura organizacional. Lembre-se, cada um percebe a organização de uma maneira, por isso informações e mensagens únicas e claras devem ser transmitidas para que todos as entendam.
Um líder da geração X pode se interessar por uma atividade ou projeto da geração Y e, principalmente, da geração Z, criando fóruns, eventos e situações de troca de informações. Para uma pessoa da geração Z, é muito importante poder apresentar seus projetos e suas ideias e ter o feedback de alguém das gerações anteriores.
Organize fóruns formais e alguns informais, onde a prática de troca de experiências aconteça, como visitar a pessoas em sua área de trabalho, perguntar e interessar-se por algum projeto ou atividade, promover um café semanal ou mensal, onde as pessoas se inscrevam e comentem sobre seus projetos e sugestões. Conferências presenciais ou por internet onde assuntos previamente agendados são abordados ou mesmo incentivo à formação de projetos e/ou equipes multi-gerações para o exercício deste convívio.
Os conflitos surgirão naturalmente, o que é bastante salutar para uma organização dinâmica e moderna. Mas o que vale é a integração e engajamento das pessoas nas iniciativas e ações de execução dos planos. Certamente, iniciativas deste tipo, aproximarão as gerações e criarão uma cultura que valoriza ao mesmo tempo a individualidade e o trabalho coletivo.
José Roberto de Siqueira tem larga experiência em liderança como Presidente e CEO em empresas multinacionais e nacionais, membro dos Conselhos de Administração e do Lide, professor de MBA, palestrante e CEO da Premiatta.