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      27/12/2010 | Mensagem de Ano Novo

      Hoje eu daria tudo para não escutar uma cigarra cantando, para não ter de sofrer reminiscências dos meus tempos de criança, da minha infância descuidada, desses sonhos meus que nem sempre chegaram ao fim.
      Hoje eu daria tudo para não ouvir o tanger de um sino, para não chorar bem baixinho uma saudade imensa dos que se foram.
      Hoje eu daria tudo para não sentir pelas calçadas, apinhadas de gente, pés que caminham em busca de migalhas a transformá-las em  “presentes” nas árvores de Natal.
          Hoje eu daria tudo para não ter  essa certeza de que os orfanatos, as creches, estão cheios de crianças, tão semelhantes aos nossos filhos, a padecer, sem culpa, o desamor e a falta de carinho dos grandes.
          Hoje eu daria tudo para não ter de visitar uma favela, morada de gente humilde, para não gritar desigualdades e misérias que ferem preceitos cristãos.
          Hoje eu daria tudo para não ler no jornal que, do outro lado do globo, há filhos do mesmo Deus, digladiando-se ferrenhos em nome de uma paz que não vem.
          Hoje eu daria tudo para não ter de conversar com alguém e dizer que nos leitos de hospital há sempre um enfermo, que é meu próximo também, lutando entre a vida e a morte, sem muitas vezes o conforto de uma palavra amiga.
      Hoje eu daria tudo para não ver homens dormindo no chão, sem ter para onde ir, nem ter com quem ficar.
          Hoje eu daria tudo para não saber que enquanto há uns que pedem bonecas, brinquedos, há os que clamam  cadeiras de rodas, aparelhos ortopédicos, como presente de Papai Noel.
          Hoje eu daria tudo para não ter de ir a um asilo e soluçar com os velhinhos, passadas ilusões, esperanças que se foram, filhos que deles se esqueceram.
          Hoje eu daria tudo para não lembrar que, neste fim de ano, em muitos lares, há sempre alguém chorando ausências doídas, um talher a menos, um lugar vazio, um presente que nunca será dado.
          Hoje eu daria tudo para não ter de acreditar que, vivendo sob o mesmo céu e sobre a mesma terra, homens feitos do mesmo pó e do mesmo sopro divino, dividem-se em classes, em grupos sociais, em raças e em credos, anulando a  “Lei Eterna” de que somos todos irmãos ao pé da cruz.
          Hoje... Ah! Hoje eu daria tudo se minhas mãos, repetindo o milagre dos pães e a multiplicação dos peixes, se transformassem em milhares de outras e levassem a toda a parte, a todo o canto, mensagens de amor e de ternura ao meu irmão que sofre. Então eu chamaria a cigarra cantadeira, o sino da capela, a estrela em abandono, o homem que caminha e ainda os presos, os oprimidos, os enfermos, a gente de cor para, numa estranha serenata de Ano Bom, dizer que felizes somos nós quando ainda, olhando ao nosso lado, podemos deparar com um rosto de criança, ou de alguma madona sofrida ou de um homem que trabalha e até alguém a quem a gente quer muito e poder dizer, ainda que aos soluços: Feliz Ano Novo, meu filho: Feliz Ano Novo, mamãe: Feliz Ano Novo, meu pai: Feliz Ano Novo, meu amigo: Fe... Fe... Feliz Ano Novo, meu amor!...

       

      Arita Damasceno Pettena

      e-mail: aritapettena@hotmail.com
      Presidente da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas



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