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      08/07/2010 | Veteranos lembram 78 anos da revolução

      Conflito que opôs paulistas ao governo Vargas deixou 830 mortos; 16 deles eram de Campinas.

      Passados 78 anos do maior conflito bélico em solo brasileiro, a lembrança da Revolução Constitucionalista de 1932 sobrevive na memória dos veteranos. Já de cabelos brancos, os heróis paulistas ainda vivos falam com orgulho do episódio. Lembram dos jovens que, vestidos de farda cáqui, trocaram o trabalho na roça e nas cidade pelas trincheiras. As batalhas tiraram a vida de 830 jovens. Entre eles, 630 eram paulistas (16 campineiros) e 200 pertenciam às tropas legalistas.

      Em Campinas, sempre que se aproxima 9 de julho, as câmeras e microfones se voltam para Paulo de Barros Camargo, senhor que, aos 94 anos, se orgulha de ter representado a cidade, durante muitos anos, na Sociedade dos Veteranos de 32. Morador do Jardim Nova Europa, tinha 16 anos quando se alistou como voluntário da revolução. Na época, ele vivia em Limeira e fazia o ginásio em uma escola que funcionava dentro do Tiro de Guerra.

      Durante os combates, o adolescente ajudava o pelotão nas ações de segurança da cidade onde morava. Hoje, ele mora com duas filhas e um neto. As paredes da sala são decoradas com capacetes, baionetas e quadros de medalhas. O rico acervo tem esculturas de José de Anchieta e uma foto sua no desfile de 7 de setembro de 2001. O veterano aparece ao lado do prefeito Antonio da Costa Santos (PT), o Toninho, que seria assassinado três dias depois.

      Camargo gosta muito de falar de gente que fez história, como Anchieta, Toninho e os idealistas do seu tempo de moço. A saúde não está mais 100% e ele evita sair de casa. Mas se anima para falar da revolução. Não se cansa de dar entrevistas sobre o assunto, e gostaria de ver a história cultuada pelas novas gerações. Para isso, doou parte das relíquias para o 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM). O comando montou no quartel da Vila Industrial um centro de memória do conflito. As duas salinhas possuem balcões envidraçados. Há fotos, bandeiras, granadas, bombardas com propulsores, cantis, bornais, fardas e rifles usados pela tropa.

      Camargo conta com a ajuda estratégica da PM para organizar um núcleo campineiro da Sociedade Veteranos de 32. Ele sabe que, a exemplo dele, só há na cidade mais um ou dois veteranos vivos. Mas ele quer montar o núcleo com descendentes dos soldados. “O pessoal mais moço vai sentir orgulho de resgatar a trajetória dos ancestrais que defenderam São Paulo no passado”, fala.

      Para o feriado de 9 de julho, amanhã, Camargo já tem programa. Vai vestir a boina e, como todos os anos, comparecer à cerimônia cívica do mausoléu em memória aos combatentes, na frente do Cemitério da Saudade. O 78º aniversário da revolução será lembrado a partir das 10h. No tradicional encontro, estarão presentes ex-soldados, autoridades civis e militares, escoteiros e soldados de quatro batalhões da PM.

      A FRASE

      “Por vós, nesta jazida, velam as pedras, que essa morte é vida.”

      GUILHERME DE ALMEIDA
      Poeta, em trecho da poesia gravada no Mausoléu do Soldado Constitucionalista, no Cemitério da Saudade

      CURIOSIDADES

      Quando rompeu com o presidente Getúlio Vargas, o governo paulista determinou que o Estado teria seu próprio dinheiro. Os “bônus”, como ficaram conhecidas as moedas, foram lastreados pela arrecadação de ouro e joias junto aos cidadãos. Os empresários da época, contrários ao governo Vargas, financiavam a construção e a aquisição de armamentos. Quem tinha armas em casa doava para os combatentes.

      O Exército bombardeou diversas cidades do Interior de onde saíam tropas revolucionárias. De Campinas, o Batalhão Raposo Tavares e a Coluna Romão Gomes partiram da estação ferroviária. O prédio se tornou alvo das bombas atiradas pelos aviões das tropas federais. Em um dos ataques, morreu o escoteiro Aldo Chioratto, de 10 anos, sepultado no mausoléu da revolução do Ibirapuera, em São Paulo.

      Fonte: Sociedade dos Veteranos de 32

      AS VÍTIMAS

      Soldados campineiros que morreram nos confrontos contra as tropas federais

      1. Dario Ferreira Martins
      2. Aristides Xavier de Brito
      3. Antônio de Oliveira Fernandes
      4. José Pedro dos Santos
      5. Nicola Roselli
      6. Fausto Feijó
      7. Francisco Prado Filho
      8. José Fonseca de Arruda
      9. Francisco Duprat Coelho
      10. Nabor de Moraes
      11. Edmundo Plácido Chiavegatto
      12. Sandoval Meirelles
      13. Aguinaldo de Macedo
      14. Luiz Mariano Bueno
      15. Moacyr Simões Rocha
      16. Waldomiro Gonzaga da Silva

      MAUSOLÉU - Os 16 combatentes foram homenageados por um mausoléu em granito, com 16,6 x 4 metros, instalado na entrada do Cemitério da Saudade. O autor do projeto foi o escultor Marcelino Velez. A placa comemorativa reproduz uma poesia do campineiro Guilherme de Almeida, que ressalta o empenho paulista no movimento revolucionário.

      SAIBA MAIS

      O centro de memória sobre a Revolução de 32 pode ser visitado no horário comercial. O museu está instalado na sede do 8º Batalhão de Polícia Militar, na Avenida João Jorge, 499, Vila Industrial. As visitas são monitoradas. Contatos com o veterano Paulo de Barros Camargo podem ser feitos pelo telefone (19) 3278-2414. Quem tiver em casa fotos, documentos ou objetos históricos, e interesse em doá-los, pode entrar em contato com a Sociedade Veteranos de 32, na Capital, no telefone (11) 3105-8541, ou escrever para o endereço eletrônico mmdc.32@terra.com.br.

      Levante foi resposta a crise política e econômica

      A Revolução Constitucionalista de 1932 eclodiu após embates políticos que se arrastavam há quase dois anos. Em 1930, Getúlio Vargas disputou a Presidência da República, mas foi derrotado nas urnas por Júlio Prestes, apoiado pelo presidente da época, Washington Luiz. Com o respaldo de oligarquias rurais, o ditador comandou uma revolução, assumiu o comando do “governo provisório”, aboliu o Congresso Nacional e as câmaras municipais.

      Com a queda do preço internacional do café, Getúlio Vargas determinou que o próprio governo comprasse os estoques das fazendas. Era uma resposta ao apoio que havia recebido de parte significativa dos fazendeiros. Mas o crash mundial fechou fábricas no Rio de Janeiro e em São Paulo, e milhões de brasileiros estavam desempregados.

      Além disso, ele depôs os antigos governadores (na época chamados presidentes de cada Estado) e nomeou interventores. Em São Paulo, foi nomeado Pedro de Toledo, no momento em que a comunidade e as lideranças políticas já estavam revoltadas com a crise econômica e o desemprego.

      Foi criada, na época, a Frente Única Paulista, que reunia lideranças de todos os partidos legalizados. Ela exigia a convocação da Assembleia Constituinte. Crescia o levante contra a ditadura.

      MMDC

      Em 22 e 23 de maio de 1932, aconteceram protestos em praça pública, reprimidos pelas forças policiais de Vargas. Os estudantes Mário Martins de Almeida, Euclydes Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo de Camargo Andrade foram mortos.

      Eram jovens das mais diferentes origens e condições sociais. Martins, nascido em São Manuel, tinha 31 anos e era fazendeiro. Miragaia nasceu em São José dos Campos, tinha 21 anos e trabalhava como auxiliar de cartório. Camargo, de Presidente Prudente, era um comerciário de 31 anos. Dráusio, paulistano, era um menino de 14 anos, que trabalhava como auxiliar de farmácia.

      As iniciais dos nomes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, MMDC, transformaram-se na sigla emblemática do movimento revolucionário.

      No dia 9 de julho de 1932 começou oficialmente o levante armado, comandado pelo general Isidoro Dias Lopes. Naquele dia, o interventor Pedro de Toledo telegrafou ao presidente Vargas e informou que não podia conter a revolta.

      Durante três meses, 100 mil homens das tropas federais atacaram São Paulo, que se defendia com 35 mil soldados. Em flagrante desvantagem, o comando paulista assinou o armistício. Dois anos depois, foi convocada a Assembleia Constituinte que elaborou a Carta Magna. Em 1997, a Lei Estadual 9.497 instituiu feriado de 9 de julho. (RV/AAN)

       

      Publicada em 8/7/2010
      Cidades
      Rogério Verzignasse
      DA AGÊNCIA ANHANGUERA
      rogerio@rac.com.br





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