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      01/08/2010 | Laerte Zago o fotógrafo do passarinho!

      Baú de histórias Quatro décadas de Campinas no foco.

      Imagens decoram o estúdio improvisado de Laerte Zago.

      O estúdio é improvisado em uma edícula de fundos, ali pela região da Lagoa do Taquaral. As imagens históricas da cidade dividem espaço com casamentos, batizados, formaturas, cerimônias religiosas, festas, torcedores. Laerte Zago fotografou uma profusão imensa de eventos. Ele próprio aparece em algumas “chapas”, ao lado de políticos famosos, padres, bispos, empresários, jogadores de futebol. Tem autógrafo do Rei Pelé, carta assinada pelo presidente Lula. Conhece gente de monte. E o telefone não para de tocar. Também, não é para menos. São 68 anos de vida. E 40 de carreira. E o mais impressionante é que o profissional premiado (com medalhas e troféus expostos na estante) nunca foi além do primeiro ano primário.

      Campineiro da gema, Zago nasceu ali pelas ruelas sossegadas que brotavam na Vila Nova. A cidade, fala, acabava ali. O pai, “seo” Maximiano, cultivava parreiras na Fazenda Santa Elisa. Conhecia vinho como ninguém. Mas nunca deixou os canteiros para receber homenagens. A mãe, dona Duzolina, cuidava dos cinco filhos na Rua Francisco de Aquino Correia. A família, ligada aos congregados marianos, rezava terço e celebrava na capela do bairro, muito antes de existir por ali a charmosa Igreja de Nossa Senhora das Graças. Ele não consegue se esquecer que, quando menino, lá em 1950, caiu um raio na torre da capela e mandou a irmã do padre para o hospital.

      Mas Zago foi crescendo. Sem estudos, se virava para sobreviver. Virou engraxate com a ajuda da mãe Duzolina. Ela encapou a cadeira com pano de chita, com direto a almofada para acomodar o cliente. Também trabalhou como alfaiate em um ateliê da Rua Benjamin Constant. Mas, aos 28 anos, resolveu radicalizar. Usou o dinheirinho contado e comprou uma máquina fotográfica. Começou a registar casamentos. Os clientes eram os cidadãos de quem ele já havia lustrado os sapatos ou para quem ele tinha cortado ternos. “É assim, uma profissão levou à outra. Os amigos te indicam, te apresentam, te convidam para trabalhar”, fala. Ele atravessou gerações. Cobriu do batizado ao casamento do mesmo cidadão. Muitas vezes.

      No início não foi fácil. Ele lembra que, no comecinho da década de 70, precisava vender carnê do Baú de Felicidade para pagar as contas. Também deu uma de representante comercial: intermediava a venda de terrenos no cemitério. Acontece que as fotos caprichadas, finalmente, começaram a garantir uma remuneração decente. E ele largou os “bicos” de vez.

      O detalhe, no entanto, é que nem sempre a fotografia foi paga. Quando ele gosta do tema, trabalha de graça. Ele virou uma espécie de “fotógrafo oficial” da Cúria Metropolitana e empresta suas imagens para decorar capas de livros, apostilas e revistas. “A gente precisa ser apaixonado pelo que faz. É feliz o cidadão que trabalha para ver o semelhante feliz”, resume.

      O detalhe curioso é que o fotógrafo não usa máquina digital. A velha Olympus M1, com filme, continua imbatível. “É, tem de ter aquela coisa romântica de ver a luz, a abertura, a velocidade. Esse negócio digital roubou o charme de fotografar”, afirma. Zago sabe, no entanto, que a tecnologia não para. E que, num dado momento, nem filme vai existir mais à venda. “Ah, mas eu morro antes disso”, gargalha.

      No coração, ele guarda uma fotografia especial. De quando uma comitiva salesiana visitou Aparecida, há mais de 30 anos. O celebrante posou segurando a imagem original da santa, aquela que foi encontrada no Rio Paraíba. Nem o tradicional manto azul envolvia a Padroeira. Raridade mesmo. A coleção também está cheia de imagens de transformações urbanas das últimas décadas. Material que, ele tem certeza, vai ter muito valor em pouco tempo.

      Mas no estudiozinho modesto, além dos envelopes cheios de negativos e reproduções, ele guarda outra paixão. O homem escreve, de próprio punho, mensagens cristãs. Fala do amor a Deus, da graça de ter filhos, do aprendizado das horas de sofrimento. E não escolhe os destinatários. Os textos são distribuídos na rua ou a quem vai ao estúdio. Também toma a liberdade de entregar mensagens para políticos. E não se importa se o sujeito presenteado vai jogar o papel fora. “Se a pessoa lê o que eu escrevo e se sente bem, acho que minha missão foi cumprida”, diz.

      Na foto acima vemos José Eduardo Gagliardi  Florence Teixeira descendente de Hércules Florence o inventor da fotografia e Laerte Zago mostrando o passarinho dele.

       

      Matéria:Publicada em 1/8/2010
      Rogério Verzignasse
      RAC
      rogerio@rac.com.br





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