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Não poderia haver, para mim, gesto mais alentador e gratificante do que, no apagar das luzes de 2010, receber da Câmara Municipal de Campinas, por Decreto Legislativo nº 3197, de autoria do vereador Peterson Prado, o honroso título de Cidadão Campineiro.
Três cidades marcaram definitivamente minha vida: Braço do Norte (SC), terra natal, onde exerci as primeiras impressões, assumi valores e princípios, fecundei minha religiosidade e adquiri medos e tabus dos quais nunca me libertei totalmente.
Lá, nas barrancas do rio da minha aldeia, extraviei meus passos, deixei marcas e sepultei os sentimentos mais puros. O nascimento
é obra do acaso, mas a vida é feita de escolhas difíceis, às vezes, mas nunca impunes. Escolhas marcam, tipificam, imprimemuma cicatriz. Somos personagens de um palco onde acontece, o episódio, a perda, a libertação, o êxtase, o substancial e o elementar. Porto Rico, (PR), foi a cidade onde alcancei a maioridade, conquistei minha cidadania e realizei alguns anseios pessoais, relevantes, sobretudo na área cultural e política.
E, finalmente, Campinas onde atingi minha plenitude emocional, e encontrei-me profissional, material e literariamente, tornou-se o palco onde alcançaria os momentos mais gratificantes, com destaque para o nascimento de meus três filhos, sem dúvida, a emoção maior de minha vida.
Campinas, terra da liberdade, sempre exerceu sobre mim um especial fascínio. Escolhi esta cidade para morar, criar meus filhos e realizar meus sonhos como cidadão e filho da humanidade. O que me trouxe a esta terra foi a ânsia
de novos horizontes e desafios e o desejo de desbravar caminhos e mundos e consciências. Ocomeço, como tudo na vida, foi difícil. Foi duro, para mim que viera de roças e cafezais, enfrentar as barreiras de uma sociedade fechada, aristocrática, tradicional e elitista, até conseguir um modesto lugar ao sol, porque modéstia sempre foi meu ofício. Era jovem. Tinha a partitura, mas precisava afinar os instrumentos para reger a complexa orquestração da vida.
Não me faltaram incentivos nesta jornada! Porque tive amigos especiais e o afeto sem limites dos meus filhos, a quem amo muito!
Mas estou falando da cidade que foi berço de ilustres personagens, como o maestro Carlos Gomes, o poeta Guilherme de Almeida, os políticos Campos Salles e, Francisco Glicério, Júlio de Mesquita, Bento Quirino e tantos outros.
Honra-me, pois, antes de fato, agora de direito, ser conterrâneo de tão ilustres personagens.
Receber um título de cidadão é uma honraria relevante na vida de qualquer pessoa. Mas receber o título de cidadão de Campinas, cidade cujo PIB é maior do que de muitos estados brasileiros, a mais importante cidade do Interior
paulista e que possui uma das mais expressivas reservas intelectuais do país, a Unicamp, é extremamente significativo na minha trajetória. Este prêmio me marca definitivamente e aprofunda meus laços e paixão pela terra de Carlos Gomes. Campinas, hoje, é meu berço e minha consciência, razão e história.
A pátria é o lugar onde se vive. Campinas é minha pátria! Este decassílabo de nosso poeta maior, Guilherme de Almeida, ao referir-se à sua Campinas,
tipifica meu estado de ânimo: “Eu deixei de ser eu para ser nós!”
Às vezes, tento imaginar o que me guindou a tal patamar.
Se tivesse que responder, paralelamente à constante demonstração de carinho dos meus amigos, elegeria o meu ingresso na Academia Campinense de Letras, como sendo fundamental para chegar aonde cheguei.
Tenho a consciência de haver travado uma luta sem tréguas. Olho para a distância e sinto haver percorrido o caminho com humildade e a convicção de que méritos, se os houve, foram à custa de trabalho, noites de vigília, de decisões
às vezes arriscadas, mas necessárias. Tenho uma dívida de gratidão para Campinas.
Necessito ensaiar as armas todos os dias, com a mente aberta, pois, nesta vida, somos eternos aprendizes.
LUNO VOLPATO
luno-volpato@ig.com.br
