• COBERTURAS


      02/12/2011 | ABAL - Encontro Musical
      Local: Sala Carlos Gomes
      Cidade: Campinas / SP
      Cobertura por: Augusto Barretto


      ABAL-Campinas apresentou um recital em homenagem àquela que, por diversos críticos e especialistas, é considera a maior cantora lírica do século XX: Maria Callas (1923-1977), que completaria 88 anos exatamente em 02/12. O evento aconteceu na Sala Carlos Gomes, (Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes). Integram o elenco do recital os sopranos Marina Gabetta, Pergy Grassi , o mezzosoprano Vera Pessagno Bréscia e, como convidados, o tenor João de Braz e o barítono José Luiz Águedo-Silva. Todos cantarão trechos de óperas interpretados por Maria Callas, durante sua carreira, e acompanhados ao piano pelo professor carioca, Alexsander Magno dos Reis. Apresentados trechos das óperas Norma (“Casta Diva”), La Traviata (“Addio del passato”, “Parigi, o cara”), Rigoletto (“Addio, addio, speranza ed anima”, “Tutte le feste al tempio”, “Bella figlia dell’amore”), Il Trovatore (“Mira, di acerbe lagrime”), Tosca (“Vissi d’arte”), La Bohème (“Si, mi chiamano Mimì”, “O soave fanciulla”), Carmen (“Habanera”, “Séguedille”, “Chanson bohèmienne”) e La Wally (“Ebben, ne andrò lontana”), além de uma “Ave Maria” em grego, composta pelo barítono José Luiz Águedo-Silva.

       

      Este recital integra a programação comemorativa aos 30 Anos dos Encontros Musicais, da ABAL-Campinas. O primeiro recital desta série aconteceu em 18 de dezembro de 1981, no saguão de entrada do Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes, quando os artistas utilizaram um piano emprestado e um público de mais de 150 pessoas lotou o saguão e sentou-se nas escadarias próximas ao lustre principal.

            

              QUEM FOI MARIA CALLAS
       

      Kaikilia Sophia Anna Maria Kalogeropoulou nasceu em Nova York no dia 2 de dezembro de 1923. Filha de imigrantes gregos, desde criança apresentou o gosto pela música – foi quando começou a estudar piano, e até o fim da vida seria uma grande pianista. Acompanhava atentamente as transmissões radiofônicas da época e, no ano de 1935, chegou a participar de um concurso de rádio. É desse concurso, inclusive, a primeira gravação que se tem da voz de Callas, cantando “Un bel dì vedremo”, da Madama Butterfly. Seus pais se separaram em 1937, e Maria mudou-se para Atenas com a mãe, Evangelia. Na capital grega, iniciou os estudos de canto com o famoso soprano Elvira de Hidalgo, professora do Conservatório local. Numa entrevista sobre sua mais famosa aluna, De Hidalgo afirmou que ela era “Perfeita, disciplinada, inteligente. Era a primeira a chegar e a última a sair.” Assistia às aulas de todas as vozes, o que lhe proporcionou não só um aprimoramento da técnica como grande conhecimento de repertório.

              Sua estreia oficial se deu na Tosca, em 1942. Tinha apenas dezoito anos, e causou ótima impressão na plateia. Em 1945, decidiu voltar para os EUA. Sua voz, absolutamente diferente daquelas a que os produtores estavam acostumados, não era compreendida, e Callas foi recusada até no Metropolitan Opera House. Não conseguiu emprego fixo em seu país-natal e mudou-se para a Itália, seguindo conselhos da própria De Hidalgo. Lá aconteceria sua primeira apresentação profissional, em 1947, no papel-título da ópera La Gioconda. Não foi um sucesso imediato, mas chamou a atenção de alguém que seria muito importante para sua carreira: Giovanni Battista Meneghini, que se tornaria seu empresário. Dois anos depois aconteceu um fato inédito e impensável: Callas apresentou-se em óperas absolutamente “opostas” Die Walküre, de Wagner, e I Puritani, de Bellini, tendo cantado ambos com extrema competência. Aquilo desconsertou e maravilhou o público. Ficou mundialmente conhecida como “La Divina” depois das tournées do início da década de 50. É dessa época a pretensa rivalidade, alimentada pela mídia, entre ela e o soprano Renata Tebaldi. Embora tivessem de fato trocado algumas farpas, não eram realmente rivais, e houve até uma “reconciliação” entre ambas na década de 60.

             Callas foi a responsável pelo retorno de várias óperas que foram total ou parcialmente deixadas de lado desde suas premières: Il Pirata, Armida, Anna Bolena, Medea e Poliuto. Seu repertório foi bastante variado: abrangeu Wagner (no início da carreira), Verdi, Rossini, Bellini, Donizetti, Puccini, Cherubini, Spontini, Gounod, Bizet, Ponchielli e tantos outros. Seu timbre, soprano drammatico d’agilità, permitia-lhe que cantasse tal repertório, já que tinha uma ampla extensão vocal (quase três oitavas registradas em gravações) e bastante agilidade. E ela restaurou os padrões belcantistas originais: os grandes papéis do Bel Canto foram originalmente escrito para vozes com peso e agilidade, ao contrário do que se acreditava no começo do século XX, quando geralmente eram interpretados por sopranos leggero ou lírico leggero.

              La Divina ficou famosa também por sua interpretação cênica. Ela retomou os ideais dramáticos do Bel Canto e trouxe para o palco não apenas uma cantora interpretando personagens, mas as próprias personagens demonstrando seus afetos diante do público.Como acontece a muitos artistas, sua vida pessoal foi bastante intensa e conturbada, com escândalos e decepções. Em 1949, casou-se Meneghini. Tudo corria muito bem até que veio a conhecer, em 1958, o armador grego Aristóteles Onassis. Foi uma paixão avassaladora, e no ano seguinte ela se divorciou de seu empresário para se tornar amante do armador – uma vez que ele próprio era casado.

              Seu amor pelo armador era como o amor de suas heroínas operísticas. Em 1968, porém, ela sofreu um duro golpe: Onassis, já divorciado, trocou a cantora pela viúva de John Kennedy. Seria o começo do fim: ela, que se aposentara dos palcos em 1965 (cantando a Tosca no Covent Garden, em Londres) gradualmente se enclausuraria em seu enorme apartamento na Rue Georges Mandel, em Paris.

              Desde sua “aposentadoria”, passou a se dedicar a outras atividades artísticas. Interpretou, em 1969, o papel de Medéia no filme de Pier Paolo Pasolini, a convite do próprio cineasta. Nos anos de 1971 e 1972, deu algumas masterclasses na Juilliard School, em Nova York. Entre 1973 e 1974, fez uma tournée mundial com o tenor Giuseppe di Stefano. Ela não era nem a sombra do que fora no passado, mas também há momentos que se destacam.

              Com o fracasso da tournée (que não foi totalmente um fracasso, mas não atendeu às expectativas de Callas), La Divina passou mais e mais tempo isolada em seu apartamento, recusando os convites de amigos que a chamavam para sair. Para piorar a situação, Onassis faleceu em 1975; ela, que já perdera a voz, não tinha mais motivos para viver. No dia 16 de setembro de 1977, Maria Callas faleceu por volta das 13h, vítima de um ataque cardíaco. Morria a parte corpórea do mito eterno.

              O legado de Callas é impressionante, por sua amplitude e sua profundidade. Ela é um exemplo de disciplina, força de vontade e amor à Arte, elementos essenciais a todo aquele que quer se dedicar ao fazer artístico. Infelizmente, La Divina não era da época dos vídeos, então há poucos registros filmados de suas apresentações; porém, há inúmeras gravações de áudio.

              A pedido da própria Callas, seu corpo foi cremado. Na primavera de 1979, suas cinzas foram lançadas no Mar Egeu, conforme ela desejara. Mas sua alma grandiosa deixou sementes que hão de germinar para sempre nos corações de todos aqueles que estiverem abertos a amar a maior de todas as artes, a mais feliz criação artística do homem: a ópera.




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