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Um dos símbolos de Campinas, o Mercado Municipal, completa 104 anos nesta quinta-feira, dia 12 de abril. A data será festejada com hasteamento das bandeiras do Brasil, de São Paulo e de Campinas e com apresentação da Banda Sinfônica da Polícia Militar de São Paulo, às 12h.
Neste pouco mais de um século, a pacata Campinas dos bondes, charretes e footings, daquele ano de 1908, quando foi inaugurado, transformou-se na pulsante metrópole, polo de alta tecnologia e do conhecimento, no qual se instalaram também as grandes redes de hipermercados e de varejões. Mas o Mercado resistiu a todas essas mudanças e continua tendo a preferência de milhares de moradores da cidade que, inclusive, o elegeram uma das 7 Maravilhas de Campinas.
As razões para isso vão desde a variedade de produtos comercializados nos 143 boxes até o tipo de atendimento oferecido aos clientes, uma vez que os comerciantes do local dizem que a relação de proximidade com os 'fregueses” é o diferencial que fazem questão de manter. “Essa é uma das características que nos empenhamos, todos os permissionários daqui, para não perder”, afirma José Antônio Peres, da Associação dos Comerciantes do Mercado Municipal de Campinas.
Peres garante não se tratar apenas de estratégia de marketing. E muitos dos que compram lá dizem ter no atendimento personalizado que recebem um dos motivos para preferirem adquirir produtos no Mercado. “Desde que cheguei de Bauru para morar em Campinas, há 30 anos, frequento o Mercadão”, afirma Fátima Nicoletti, técnica em Raios X.
Ela ressalta que além de o local ser atraente e antigo, “o tratamento onde compro os produtos é excepcional, tem todo um ritual, desde o cuidado com manuseio do alimento até chegar às mãos do cliente. Isso você só vê aqui; é bem diferente do atendimento dos supermercados”, diz, contando, ainda, que adquire no Mercado temperos e alimentos naturais. ”Sou freguesa da banca da Regina. Hoje estou comprando queijo e só compro aqui”, diz.
Democrático com seus frequentadores, há também quem vá ao Mercado não somente para fazer compras, mas para apreciar o local. É o caso do mineiro Nilson Dias Santana. Ele conta que cada vez que tem a oportunidade de ir até o Centro gosta de passar no Mercadão. “Gosto de alimentos naturais, a granel. Hoje comprei feijão, farinha e estou levando algumas coisas a mais. Compro em todas as bancas. Além disso, gosto de vir aqui porque o local me lembra Minas (Gerais)”.
Como ele, a aposentada Conceição Aparecida do Lago, de 84 anos, explica sua ligação com o Mercado: “vim passear com minha filha no Centro e pedi a ela para vir até ao Mercadão. Aqui encontro tudo o que quero, além disso, venho não só para fazer compras, mas gosto daqui porque é bem tradicional. Gosto de vir aqui para passear.”
Personagens marcantes
O dia a dia do Mercado é feito, ainda, da dedicação de pessoas cuja relação com o local vem de muitas décadas. Henrique Júlio de Melo Franco Husemann é uma delas. Permissionário do boxe Rei do Fumo, a relação de sua família com o Mercado vem de mais de 90 anos.
Husemann conta que atravessar o espaço ocupado pelo centro de compras fez parte de sua rotina ainda criança, pois a casa onde morava era próxima. Tempos depois, casou-se com a filha de um permissionário. “Deixei, anos após, a profissão de piloto de avião para dedicar-me ao negócio herdado de meu sogro onde estou até hoje”, conta.
Os anos de convívio com o Mercado fizeram com que Husemann colecionasse inúmeras histórias de personagens que viveram por lá. Um deles foi Tererum, rapaz que fazia “bicos” descarregando de caminhões as mercadorias que abasteciam o Mercado. “Ele era figura folclórica daqui por volta do final dos anos 60 e início dos 70, até que teve de amputar uma perna depois de ter sido atropelado na Francisco Glicério”, lembra.
Outro personagem que marcou os anos 60/70, lembra Hussemann, foi Maria Funil, especializada em proferir os mais ferozes xingamentos quando quem passava pelos arredores do Mercado não lhe dava o dinheiro que pedia. “Cada um ao seu modo, foram pessoas que deixaram marcas na história do Mercado”, pontua.
A rotina do Mercado foi marcada também por um bar especial, que atraiu para seus balcões artistas e personalidades nacionais: o Bar do Pachola, que abriu suas portas em 1908 e só as fechou recentemente, em 2009, deixando saudades em seus antigos frequentadores. Durante muito tempo o Bar do Pachola foi um dos pontos de encontro de jornalistas, políticos e intelectuais da cidade que se reuniam ali para apreciar os petiscos, pastéis, a dobradinha de moela, o pirão e caldo de mocotó, entre outros, e para discutir os grandes temas nacionais e municipais.
Variedade de produtos
Flores, verduras, frutos, temperos, carne, frango, peixes, fumo de corda, adubos, miudezas, ervas medicinais e muito mais, convivendo com produtos industrializados. É isso que o consumidor pode encontrar nos 143 boxes do Mercado Municipal. E o que é melhor: a preços bem acessíveis. Quem precisa consegue no local até produtos e receitas para simpatias que, garantem, são infalíveis.
É esta variedade que contribui também para a atração de clientes. Afinal, na Campinas moderna, polo de tecnologia e de irradiação do conhecimento, na cidade dos grandes shoppings centers e redes de hiper varejo, é no centenário Mercado Municipal que pode-se encontrar com facilidade o fumo de corda; os cereais e temperos a granel e um grande número de produtos de comercialização nem tão comum assim em outros estabelecimentos.
História e arquitetura
Projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o Mercado foi fundado em 12 abril de 1908, na gestão do prefeito Orosimbo Maia. Seu estilo obedece à arquitetura mourisca. Na área em que está instalado funcionava um entreposto onde o açúcar levado ao Porto de Santos era depositado.
Na plataforma onde estão instaladas atualmente as peixarias ficava a estação Carlos Botelho, local no qual o trem parava para recolher as sacas. Por ali circulavam também bondes e charretes, que davam um charme próprio ao local. Mulheres elegantemente vestidas e homens bem trajados, com ternos, gravata e chapéus, são imagens comuns em fotos da época. A região era, também, ponto de footing da juventude campineira daqueles anos.
O prédio que o sedia foi tombado em 1982 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e, em 1995, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc).
Em 1996 passou por reforma que recuperou suas características originais, uma vez que a edificação estava já descaracterizada por reformas anteriores. No final de 2005, sua fachada foi pintada, seu telhado reformado, os toldos dos boxes trocados e , assim como as platibancas, padronizados. O estacionamento passou a ser automatizado e ganhou novas vagas. O Mercado recebeu, também, nova comunicação visual, projeto paisagístico, processo de higienização, e recapeamento asfáltico.
Conheça o Mercadão:
Número de boxes: 143
Número de permissionários: 103
Características:
1. diversidade de produtos de boa qualidade e preços acessíveis (alguns pouco comuns nas redes varejistas)
2. convivência entre a comercialização de produtos tradicionais e produtos industrializados
3. produtos religiosos; ervas e especiarias (e orientação para simpatias)
4. verduras preferencialmente de municípios da região (o que garante a qualidade)
5. relação entre comprador e vendedor acaba sendo de amigo (familiaridade)
6. atendimento de certa forma personalizado (acaba tendo quem atende a quem compra)
7. tradição de quem tem 104 anos de história
8. localização privilegiada (na região central da cidade)
9. estacionamento amplo, automatizado e seguro.