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Crianças solidárias do Brasil e dos Estados Unidos deram de presente de aniversário ao Centro Infantil Boldrini um pomar, um borboletário e um carrinho de golfe. Gestos de fraternidade marcam os 32 anos de atividades do Boldrini, hospital localizado em Campinas, que já atendeu quase 25 mil crianças com câncer e doenças no sangue desde a sua fundação, em 25 de janeiro de 1978. Atualmente, estão em tratamento no Boldrini cerca de 7 mil pacientes, com expressiva maioria atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Mais do que tratar é necessário cuidar da qualidade de vida durante e após o tratamento. O Boldrini recebeu de presente recursos para disponibilizar um belo pomar e um borboletário aos seus pacientes. Estamos convencidos que através da beleza das flores e das borboletas, dos momentos de lazer aos pés de uma laranjeira ou pé de manga, a criança em sua fantasia ultrapassa o sentido da doença, modificando seu foco, se superando na busca de novas forças e esperança. Com essas novas áreas de lazer, o Boldrini dará importante passo na melhoria da qualidade de vida a todas nossas crianças. Elas merecem!”, diz a doutora Silvia Brandalise, presidente do Boldrini.
A ideia do borboletário surgiu de um gesto solidário de Aristodemo Pinotti, 10 anos, ao fazer uma doação de 50 reais ao hospital. Entusiasmado com o projeto que abrigará as borboletas, Aristodemo mobilizou os colegas da escola e os amigos dos campeonatos de tênis para arrecadar os recursos.
O carrinho, pintado por crianças com câncer do Children’s Hospital de Denver, nos EUA, será usado para alegrar o transporte dos pequenos pacientes em tratamento no Boldrini, para os serviços de radioterapia e de imagem, como também para a hospedagem na Casa de Apoio Social, ao lado do hospital. Esse meio não usual de transporte, além de ser utilitário, contribuirá para um momento de descontração dos pacientes.
Desafios para 2010
“O próximo desafio do Boldrini será a gestão da Unidade Campinas da Rede Lucy Montoro, iniciativa da Secretaria dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiências, junto à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Numa área de 4 mil metros quadrados, laboratórios e oficinas de reabilitação promoverão o restabelecimento das funções motoras e a reintegração social prioritariamente a centenas de crianças e jovens portadores de deficiência motora secundária a tumores ósseos ou de sistema nervoso, artropatias graves em pacientes com hemofilia ou doença falciforme, ou portadoras de distúrbios motores/paralisias secundários a defeitos congênitos ou decorrentes de acidentes. A utilização das modernas instalações será ampliada a outros pacientes portadores de mobilidade reduzida”, diz a doutora Silvia.
Em 1978, cerca de 95% das crianças no Brasil faleciam em decorrência de câncer. Referência internacional no tratamento de câncer, o Boldrini foi pioneiro no Brasil ao atingir taxas de cura de 75% a 80% para crianças com câncer.
As estimativas mostram que, de cada 100 mil crianças, em torno de 10 a 15 desenvolvem algum tipo de câncer nos primeiros 18 anos de vida. Segundo a oncopediatra Silvia Brandalise, “hoje existem evidências epidemiológicas de que os agentes que levam à teratogênese (malformação, como por exemplo a anencefalia) possivelmente são os mesmos fatores envolvidos na carcinogênese (desenvolvimento do câncer)”.
Nestas duas últimas décadas, estudos internacionais revelam uma curva ascendente da incidência do câncer na faixa etária abaixo de 18 anos de idade. Fatores de risco relacionados às profissões e idades dos pais, condições da gravidez, meio ambiente e de estilo de vida, representam o foco das pesquisas de um grande Consórcio Internacional do Câncer da Criança (ICCC), do qual o Centro Boldrini participa desde 2008.
Fato igualmente preocupante é o registro do incremento da ocorrência do câncer em adolescentes acima de 18 anos e adultos jovens (até 29 anos) nos EUA ou 44 anos, na Europa. "Nessa faixa etária, o câncer nos testículos tem incidência crescente, enquanto os cânceres de mama e de colo do útero predominam no sexo feminino." O melanoma e câncer da tireóide estão igualmente em ascensão para os dois sexos. No adolescente e adulto jovem, os fatores de risco envolvidos na carcinogênese estão mais relacionados à exposição ao fumo, fatores ambientais como pesticidas e metais pesados, exposição solar, uso de hormônios e outros.
Recentemente, o Boldrini assumiu a liderança nacional no estudo das políticas de controle e prevenção dessa doença em crianças e adolescentes. O exame de mapeamento da retina em crianças até 15 meses de idade, feito por oftalmologistas, permitirá o diagnóstico precoce do retinoblastoma (câncer ocular), podendo-se evitar a quimioterapia e a cirurgia de enucleação (retirada do globo ocular) do lado afetado pelo tumor. Através de exames de ultrassonografia será possível detectar de forma precoce tumores abdominais (embrionários) em crianças assintomáticas, com até 2 anos de idade. “E, o mais importante, será fazer o diagnóstico precoce de malformação renal, de testículo, de ovário, de bexiga, das vias urinárias, que normalmente vão apresentar sintomas quando a criança tem em média 10-15 anos. O exame de avaliação interna abdominal transcende o diagnóstico do câncer e coloca Campinas na linha de frente na busca dos fatores ambientais relacionados ao câncer e à ocorrência de malformação”, avalia a doutora Silvia.
Para a oncopediatra, não basta fazer o diagnóstico precoce da doença. É necessário diagnosticar possíveis mutações genéticas que ocorram antes do desenvolvimento do câncer, como também identificar fatores predisponentes ou desencadeantes, na esfera da interação gene-meio ambiente.
BOLDRINI
Área construída – 100 mil metros quadrados
Profissionais – 620
Janeiro a Novembro 2009
Consultas ambulatoriais – 53.658
Internações hospitalares – 3.590
Exames laboratoriais – 157.812
Exames de imagem – 12.699
Sessões de quimioterapia ambulatorial – 28.944
Sessões de radioterapia – 7.300