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      16/07/2012 | Alcides Acosta - Homenagem à Carlos Gomes

       

      CARLOS GOMES, HONRA E GLÓRIA PARA CAMPINAS

       

      Alcides Ladislau Acosta

      14/07/2012

       

      À imitação de um caudal fluido e sinuoso, que escoa por entre caminhos, veredas e sendas urbanas, a esta Egrégia Casa do Povo de Campinas "a nossa Câmara Municipal"  todos os anos aqui chegamos como que a um destino combinado. Essa confluência de cidadãos que hoje aqui se congregam e se confraternizam, atentos e alertas, serve ao exercício de um alevantado dever cívico: o de homenagearmos este mês de Julho, particularmente rico em celebração.

      Em assembleia, oferecemos em primeiro lugar este preito de reconhecimento aos fundadores de Campinas, pelo assentamento das raízes desta grande e maravilhosa cidade, hoje festiva nos seus 238 anos de histórica e progressista existência; em segundo lugar, relembramos emotivamente a dois dos maiores artistas brasileiros aqui nascidos: o Maestro Antônio Carlos Gomes e o Príncipe dos Poetas, Guilherme de Almeida. Ambos, personagens de uma estranha, complexa e mágica coincidência: no mesmo 11 de julho, separados por pouco mais de um século, no tempo, (precisos 133 anos), e como se estivessem marcados nas estrelas, Carlos Gomes nascia em 1836 e Guilherme de Almeida viria a falecer em 1969.

       

      Esta noite será marcada pela solene outorga da MEDALHA CARLOS GOMES, comenda maior de Campinas aos cidadãos e artistas que contribuíram e contribuem com sua Arte e talento, para o desenvolvimento cultural que tanto para nós significa e orgulha.

       

      Mas, cumpre e sempre vale relembrar o artista maiúsculo que confere seu nome a essa honorífica medalha. Para gáudio da pesquisa histórica muitos historiadores e musicólogos, recentemente, tem se debruçado na busca de novas informações e descobertas sobre a vida e a produção operística do nosso Maestro Carlos Gomes. Obras vieram a lume com material encontrado, constatações e releituras de aspectos de sua vida e de seus trabalhos musicais. E, ainda, como incremento a esse afã de saber mais sobre o "Tonico de Campinas", suas primeiras óperas foram restauradas e reapresentadas em nossos principais centros culturais.

       

      Malgrado, como débito, como lição ainda a ser feita e passada a limpo, deixada até esta data apenas como expectativa e reivindicação, resta trazer a público suas óperas iniciadas e inacabadas. Pelo que conhecemos de Carlos Gomes, ouvindo-se suas óperas levadas a cena, pode-se bem imaginar que, aquelas que ficaram incompletas, sejam, igualmente, joias de rara beleza, lampejos inspirados de um gênio compositor, esboços insuspeitos de riqueza sonora ou tímbrica, motivos melódicos de algum ou total ineditismo. Carlos Gomes sempre gostou de se abeberar em águas límpidas, virgens e preservadas da criação musical. Foi dessa forma que, nos asseguram respeitáveis musicólogos, Carlos Gomes apontou, ao seu tempo, novos rumos e estruturas na arte de compor ópera, estabelecendo parâmetros antes inexistentes, e inovando a linguagem dramática tornando-a mais direta e fluida.

      Esperamos, destarte que, ao menos, trechos musicais, cenas e enredos, do que Carlos Gomes não conseguiu terminar sejam resgatados, a preencher as lacunas de sua trajetória de compositor. Alinham-se entre essa produção perdida títulos como Os Mosqueteiros do Rei (1871), A Máscara (1876), Ninon de Lenclos, Palma (ambas de 1878), Emma de Catania e Leona (ambas de 1882), Os Ciganos e Oldrada (esboçadas em 1884), Morena (1887), Cântico dos Cânticos e Kaila, respectivamente iniciadas e deixadas interminadas em 1890 e 1894.

      Campinas, na condição de berço do grande compositor de ópera, Carlos Gomes, precisa de uma vez por todas assumir e se conscientizar de sua vocação para a música lírica. Esta cidade é predestinada para a música erudita desde os albores do século XIX, quando aportou por estas plagas Manoel José Gomes, pai de José Pedro de Sant'Anna Gomes e de Carlos Gomes.  Foi quando tudo começou para que a Vila de São Carlos, depois florescente vilarejo, e após esta pujante urbe, se transformasse em incomparável incubadora de bandas de música, orquestras, grupos musicais, compositores, cantores líricos, conforme nos informa Lenita Waldige Mendes Nogueira, em seu livro "Música em Campinas nos últimos anos do Império". Não fosse a febre amarela haver dizimado, ou exilado, parte da população nos tempos da epidemia, Campinas teria gerado e conhecido ainda mais compositores talentosos de quantos possui em sua história.

      Quantas outras cidades, no País, e em outros Países, podem se orgulhar de possuir, em sua história, um filho com tal qualidade musical, como a que emoldurou o gênio gomesiano? Quantas outras cidades serviram de berço a esses rebentos de vida iluminados, de eloquente poder comunicativo, e que descobrindo sua potencialidade, souberam transpor obstáculos, elevar-se acima das vicissitudes da vida, romper convenções e limites, arrojando-se entre os melhores do seu tempo?

       

      Nesse aspecto, Carlos Gomes foi para Campinas um predestinado, um quase milagre, quando observadas as condições econômicas e sociais da então Vila de São Carlos, em 1836, de menos de 7 mil habitantes. Ali, o menino Tonico de Campinas cresceu cercado pelos instrumentos da banda do pai Maneco Músico. Brincou, limpou, guardou, montou e desmontou... e aprendeu naqueles metais, madeiras e bumbos, a arte de produzir sons e harmonias. Foi aquele o seu universo na pacata vila, sua primeira escola de música. Acompanhar o pai, mestre de capela da Matriz, o fez conhecer e gostar dos cânticos sacros, espiritualizados, místicos, ressoando pelo vasto salão consagrado a suscitar e respaldar rezas, loas e ladainhas. Depois, nos coretos e espaços abertos, entusiasmou-se e vibrou com as clarinetadas, bombardinos, trompas e trompetes, marcados pela percussão e pelo seu triângulo, chamados de "ferrinhos" pelos seus biógrafos.

       

      O "Tonico de Campinas" fez-se moço sob os mimos de seu irmão mais velho, o Juca Sant'Anna Gomes, também músico talentoso, baixo o rigor do pai, professor e regente Maneco Músico, e sentia-se bem se entendendo com os demais músicos da banda do pai. Foi essa a estrutura que o rodeou e sustentou sua vocação imanente de compositor. Suplantar tais restritos limites foi seu maior desafio em busca do sonho - nele desperto - de compor óperas. Arthur Imbassahy, em artigo publicado na Revista Brasileira de Música, assegura: "Carlos Gomes não tinha outras ambições que não as da glória, e esta só lhe adviria das suas óperas, sempre opulentas do mais variado colorido que lhe podia oferecer a musica inspirativa. A ambição do dinheiro nunca o preocupou".

       

      Mercê de sua grande capacidade de conceber sonoridades, organizar e dirigir suas óperas, confrontar e ultrapassar os prosaicos problemas da vida, jamais se abatendo ou se deixando derrotar, Carlos Gomes elevou o nome de Campinas até o seu pedestal glorioso. Rompeu as fronteiras internacionais e fez de seu torrão natal um nome conhecido e reconhecido nos Continentes. Sua obra não foi esquecida pelos grandes teatros mundiais, onde ainda é executada e aplaudida.

       

      Benedito Otávio, em "A Morte do Condor", compõe versos ao Maestro Carlos Gomes:

      Apresentava o gênio, em melodia rara,

      O afeto de Cecilia, a dor cruel de Ilara,

      Da Tudor, a paixão, do Condor, o revés;

      E o doce murmurar do calmo Paraíba,

      E o horríssono rugir dos fortes Aimorés;

      De Salvador, o esforço e, do mar, ao ribombo

      A esperança a fulgir nos olhos de Colombo.

      Os medonhos parcéis passando sem temor!

      E ao som da sinfonia assim clamava a Glória:

      Gênio! Tu viverás nas páginas da história,

      Oh, águia portentosa, impávido condor!

       





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