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Quem disse que a dor da gente não sai no jornal?
Desta vez saiu. E, saiu na imprensa do mundo inteiro.
Eu me lembrei de um título de um livro que li lá pelo fim da década de 80: “O QUE FAZER QUANDO A FÉ PARECE FRACA E A VITÓRIA INCERTA?”.
A gente vai vivendo, vai acumulando anos e experiência e se dá conta que tudo isso não vale pra nada, diante das incertezas da vida.
As tragédias sempre existiram e sempre existirão. E, sempre nos agridem. E, a fé começa a enfraquecer, e o futuro parece incerto.
Então, atônita e angustiada, me pergunto a todo instante que vejo e revejo as cenas terríveis do incêndio da boate gaúcha da cidade de Santa Maria. Porque isto nos pega assim e nos derruba?
Desta vez nos atingiu mais fundo, porque não foi uma tragédia- foi um descuido, um descaso, uma irresponsabilidade das autoridades que deveriam cuidar do povo, dos cidadãos, dos brasileiros.
Para isso foram eleitos e são pagos. Mas nunca sabem de nada, nunca viram nada, nunca há ninguém que saiba explicar onde estavam os fiscais que deveriam ter fiscalizado a tal da casa de shows, ou danceteria, sei lá.
Aquilo pra mim, era um galpão de luxo, com bar, mezzanino vip, e palco e sei lá mais quantas coisas para atender o público que lá frequentava, e só uma porta de saída e de chegada. Nada de sinalização, nada de brigada contra incêndio, nem walk talk os tais seguranças tinham para se comunicarem .Levou um tempo para que abrissem as portas, exigindo que ninguém saísse sem pagar a conta.
Despreparo total! Descaso total! Incopentência total! Irresponsabilidade total!
Somos frágeis. Nossa condição humana nos faz vulneráveis e indefesos. Vemos, que embora soframos coletivamente, somos sós, nesta nossa fragilidade. E nos sentimos mais suceptíveis ainda, quando percebemos que não temos a quem buscar ou recorrer.Todos estão igualmente sem saber direito o que fazer.
Tudo é meio à deriva. Não temos pessoal qualificado suficiente para socorrer vítimas. Temos tecnologia. Temos dinheiro. Temos órgãos que deveriam estar encarregados disso. Todavia, não temos pessoal para atender tal demanda. Não sabemos como agir numa hora dessas. Não temos vontade política.
Agora mesmo, nesse instante, escuto que o governo decidiu botar em lei, um cuidado maior, uma fiscalização efetiva nas casas noturnas do país. Precisou entrar ladrão para pôr tranca nas portas.
Essa constatação de nulidade diante de fatos tão tristes é que angustia. Onde está o poder público que não cumpriu o seu papel, e a cada calamidade vem a conversa mole que desta vez vamos fazer e acontecer. Passados algum tempo, tudo fica como antes no quartel de Abrantes.
A defesa civil de Sâo Paulo, a cidade mais rica da União, deu o relatório que não tem condições materais de dar conta desse tipo de demanda, Não tem carros, nem homens( 350 funcionários pra dar conta de 407 áreas de risco) , nem instrumentos suficientes…Restou, diante de todos os relatórios, entrevistas e repostagens; um fato real: a solidariedade do povo brasileiro é uma realidade que emociona.
Em muitos momentos dessas reportagens todas, meu olhos encheram-se de lágrimas de emoção e tristeza. Somos um povo bom, misericordioso, altruísta nas adversidades.
O que falta, então?
LIderança governamental para organizar tudo isso.Vontade politica, seriedade, competência.
Por que será que já não acredito nas promessas, e nas lágrimas? Estar presente numa hora destas é reconfortante, mas nãoo suficiente. Onde estão os culpados?
Não sinto firmeza em nada , nem em ninguém.Já fui mais afoita em minha esperança! Onde estão nossos gestores?
Onde estão estas pessoas que foram eleitas para cuidar dos problemas do povo?
A cada minuto, tomamos conhecimento que foi muito pior do que pensávamos…mais de 350 jovens universitários, na flor da idade, morreram porque celebravam a vida..
Vamos passar quantos verões mais por este extermínio coletivo?
É um verdadeiro holocausto a cada ano. E depois de acontecido é a mesma falácia…
Já tivemos áreas desmoronadas em shoppings Já tivemos represasque tiveram de ser abertas para darem vazão à agua em excesso, e inundaramm cidades. Imaginaram um problema em Itaipu?
Como confiar em plataformas no mar para extração do pré sal? Odeio este maldito jeitinho brasileiro.
Quase ninguém cumpre direito o seu papel. Enfermeiras dão injeções erradas em crianças, doses de remédios maiores que a possibilidade de uma criança absorver. Todo dia uma no’ticia ruim, e somos obrigados a ouvir que torcemos contra. Ora, ora,...
Como costumo dizer, o que não tenho poder pra mudar, melhor deixar de lado. Mas, consigo? Quem em sã consciência pode ficar ileso e alienado diante de fatos como este?
Há uma inconsequência generalizada, e creio que ainda teremos mais dissabores, quando essa geração que está se formando em péssimas escolas, começarem a trabalhar.
E estaremos sujeitos a esses engenheiros que farão nossas casas, nossas pontes, nossos viadutos, a esses profissionais de medicina que cuidarão de nossa saúde Técnicos que cuidarào dos vôos de nossos aeroportos… e por aí vai. Os legisladores que continuarão a legislar em causa própria…um ciclo vicioso.E, fora isto , o ciclo da natureza, que não pede licença, nem passagem…
Ouvi um técnico dizendo na TV , que nossa fragilidade, frente às calamidades , são como se morássemos na base de um vulcão fadado a entrar em erupção a qualquer momento.Temos de aprender a nos defender deste risco eminente. Não temos terremotos, nem vulcões, nem tornados, mas temos tempestades de verão. Temos de nos preparer pra isso e ponto final.
As mães e pais apavorados, não querem nem pensar em deixar seus filhos saírem mais para as baladas, para um show, ou para um jogo. Assim, vamos nos restringindo neste viver terreno.
Segurança? Nesta vida não teremos…tomara tenhamos garantia na outra.mas, este já é outro assunto, tão complicado ou mais que este.
Ercília Pollice
Escritora, poeta, artista plástica.
