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      03/03/2010 | Biléo Soares (PSDB)fala: Campinas não merece

      Evidentemente que Campinas não merece estar passando pelo que passa na área cultural. Embora o coordenador de Comunicação da Prefeitura tenha dito, em recente debate, que a Cultura de Campinas não se restringe aos dois teatros municipais — um parado há cerca de três anos em obras infindáveis e outro despencando na cabeça de atores e do público — o fato inegável é que a Cultura de Campinas passa, principalmente, pelos dois maiores teatros da cidade. Em suma: uma cidade de mais de um milhão de habitantes não pode ficar sem seus dois principais teatros (...), porque é nelas que se pratica a vida, é nelas que a cultura sobrevive, é nelas que se aprende a gostar do canto e da prosa, é nelas que pulsa o coração artístico que cada um traz dentro de si.

      E teatro tem história em Campinas. Desde o São Carlos, que recebia companhias cariocas, paulistas e europeias, até o Centro de Convivência, palco de peças e shows memoráveis dos maiores artistas brasileiros, passando pelo demolido e saudoso Teatro Municipal, a cidade respirou todos os tipos de artes cênicas e assistiu a tudo, de Carlos Gomes a Tom Jobim, de Carmen Miranda a Gal Gosta, de Sarah Bernhardt a Bibi Ferreira, dando a todos eles o carinho do aplauso e o prazer do reconhecimento.

      Hoje, não há nem sombra desse passado distante e mesmo de tempos que ainda estão vivos na memória das atuais gerações. E cremos que será muito difícil explicar a nossos filhos e netos os motivos pelos quais uma cidade com um passado Cultural à altura de uma grande capital, em poucos anos se transformou numa caricatura indesejável, num arremedo do que havia sido, num palco sem luz, sem som, sem ator, enfim, sem vida.

      Nosso primeiro teatro existiu antes mesmo de a eletricidade clarear automaticamente as salas e de a cidade ter redes de água e esgoto. Era à luz de velas e de candeeiros a gás que se assistia a peças em meados do século XIX, com as cadeiras sendo providenciadas pelas próprias famílias. Era a vocação cultural da cidade, região de grandes fazendas de café cujos senhores mandavam os filhos estudar na Europa, que se sobrepunha às dificuldades e superava barreiras para consumir a arte que o mundo mais desenvolvido consumia.

      Depois, com a construção do Teatro Municipal Carlos Gomes, inaugurado em 1930, Campinas passou a ter uma sala de espetáculos à altura de sua importância. Demolido, por motivos que até hoje permanecem obscuros, em 1965, sua ausência só seria suprimida anos depois com a construção do Centro de Convivência e da adaptação do antigo Cine Casablanca, no Teatro Castro Mendes.

      Ambos serviram à cidade de modo adequado. Enquanto o complexo do Centro de Convivência recebia peças e cantores, organizava exposições em seus espaços internos, levava até grandes concertos na Orquestra Sinfônica no Teatro de Arena, o Castro Mendes exibia óperas e grandes produções teatrais, além de shows com maior afluência de público, já que tinha mais que o dobro da capacidade do Convivência.

      Hoje, Campinas vive a lastimar o estado em que se encontram seus dois mais importantes teatros. E, embora a situação que ora se apresenta não tenha, por parte das autoridades, um prazo civilizado para chegar ao fim, não podemos apenas ficar lamentando.

      Nós, vereadores, precisamos exigir uma solução rápida para o problema. Ouvimos, durante os primeiros quatro anos do atual governo, que nunca Campinas recebeu tantos recursos do governo federal. Portanto, a desculpa de que a reforma envolve vultosas verbas não pode ser aceita mais. Campinas, hoje, exige que seus teatros voltem a funcionar e se mantenham funcionando dentro das qualidades que sempre exibiram. A Cultura da cidade não pode mais ser tratada como se fosse material descartável sob pena de perdermos nossa própria identidade, cultivada ao longo de quase dois séculos de portas abertas para os mais renomados artistas do cenário brasileiro.

      Biléo Soares é vereador e líder do PSDB na Câmara

       

      Publicada em 24/2/2010

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