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      06/08/2013 | ABAL Campinas - Tango

      ABAL Campinas relembra clássicos do Tango

      Tangos da época áurea desse gênero, como “Mi Buenos Aires Querido”, “Adiós Muchachos”, “Caminito” e outros, serão interpretados com acento lírico no próximo recital da ABAL Campinas (Associação Brasileira Carlos Gomes de Artistas Líricos), sexta-feira, dia 9 de agosto, às 20 horas, no auditório da ACI (Rua Barreto Leme, 1479, Centro, tel. 3234-2591), dentro da série Encontros Musicais. O repertório de clássicos do Tango será apresentado pelos tenores Antônio (Tite) Stopiglia e Alcides Acosta e pelo barítono José Luiz Águedo-Silva, acompanhados pelo pianista Carlos Wiik. Além dos já citados, mais os seguintes tangos irão compor o programa: “Cuando tu no estás”, “La flor de la canela”, “Por una cabeza”, “Volver”, “Lejano de mi tierra”, “Cantando”, “¿ Donde estás corazon?”, “Adiós, pampa mia”; “El día que me quieras”, “Esta noche me emborracho”, “Madreselva” e “Silencio”.

      Temos o prazer de confirmar, agora, a participação dos professores e bailarinos de tango, Natacha Muriel López Gallucci (Arg.) e Lucas de Camargo Magalhães, em dois números clássicos de tango. Natacha e Lucas são diretores da Cia. Típica Tango, entidade que tem como fundamental objetivo a difusão do Tango e a cultura da América Latina. Sediada em Campinas, no ESPAÇO CULTURAL TÍPICA TANGO, no distrito de Barão Geraldo, a Companhia possui entre suas principais caraterísticas o intercâmbio cultural de artistas e o desenvolvimento de pesquisas vinculadas à filosofia do tango e sua história cultural como "dispositivo inédito de criação na história mundial da dança". Esta participação torna ainda mais especial a apresentação da ABAL Campinas dedicada ao Tango.

       

      “Todos os tangos serão cantados no idioma original, uma vez que não quisemos utilizar as versões em Português que existem. Esses tangos sempre foram muito populares e de agrado geral, ganhando muitas vezes versões quando interpretados fora da Argentina” – comenta o tenor Alcides Acosta. Diz que os criadores desses tangos, que os gravavam, como por exemplo Carlos Gardel, Libertad Lamarque, Francisco Canaro, Hugo del Carril, Antonio Prieto e tantos outros grandes intérpretes, tinham voz de barítono ou tenor, no caso dos homens, e de soprano, quando mulheres. E eles tinham que adquirir técnica vocal com acento lírico, já que na primeira metade do Século 19, quando esses tangos surgiram, dava-se muita importância à qualidade e ao volume vocal dos intérpretes. Por isso – conclui – a ABAL Campinas dedicou um de seus recitais aos tangos, como fez em 2012 resgatando em concerto a zarzuela espanhola, visto que os ambos gêneros requerem cantores dotados de recursos vocais e interpretativos.


      Tango, bem mais que ritmo

      Recentemente especulou-se que o tango nasceu em um bairro de descendentes de escravos africanos na Argentina. De raízes suburbanas, o ritmo teria também uma “história negra”, relacionada com os ritmos afroargentinos. Esse detalhe acaba de ser resgatado há pouco tempo pelo antropólogo Norberto Pablo Círio, que orientou uma abrangente exposição sobre o gênero musical. “Apesar de sempre existir rumor sobre a presença negra no tango, esse assunto nunca foi bem estudado e compreendido”, opina Círio. Buscando subsídios para sua tese, o antropólogo entrou em contato com a comunidade argentina de ascendência africana, segundo suas palavras, “para saldar uma dívida histórica e social com um dos grupos fundadores do país”. Utilizou também partituras, discos e fotografias originais para reconstituir o percurso do Tango nas últimas décadas do século 19 e analisar o candombe, “a música e o baile distintivos e emblemáticos desta comunidade”, e a música de carnaval que, para Círio, desenham o contexto no qual nasceu o tango. A figura de Rosendo Mendizabal é considerado um marco nas origens do tango, opina o especialista. A partitura original de 1897 de “El Entrerriano”, uma das mais importantes composições de Mendizabal, constitui uma publicação que, na opinião de Norberto Pablo Círio, marca a origem da “Guardia Vieja” como período estilístico do tango. O compositor e músico Ruperto Leopoldo Thompson introduziu o chamado estilo “canyengue”, e o pianista e compositor Horacio Salgán, com o tango “A fuego brando”, contribuiu para o movimento estético de Astor Piazzolla e sua escola. Outro compositor destacado por Círio é Enrique Maciel, cuja valsa “La pulpera de Santa Lúcia”, de 1929, é “o hino, a obra emblemática das valsas crioulas”. Desde a origem do tango até o presente sempre houve músicos, compositores e dançarinos negros, merecendo ser sublinhado que dois dos seis guitarristas de Gardel eram afroargentinos.

      Círio considera que “nunca antes a comunidade afroargentina tinha sido consultada e estudada, não havia sido dada uma oportunidade, espaço para uma palavra, voz e o voto a esta parte da história”. Para ele, no melhor dos casos, os que escreveram a favor desta teoria sempre o fizeram com base unicamente em documentos escritos por brancos, o que tornava a abordagem parcial. “Esta questão foi mal estudada por falta de provas, mas fundamentalmente pela curta visão europeísta, resultante de como pensam os argentinos como nação”, em cuja construção da identidade “se enfatizou um projeto branco europeu e cobriu-se com um manto de esquecimento as outras tradições culturais anteriores, como a negra e a aborígine”, conclui.

      Entrada franca.  

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