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Quem não o conhece? Figura respeitada no passado, holerite que nada perdia para o juiz da cidade, hoje não passa de um mendigo de gravata tal a situação de penúria a que vem sendo exposto pelos donos do poder. Achatado, cada vez mais, em seus vencimentos, era, entretanto, em tempos que já vão longe, personagem central na comunidade em que estava inserido, indivíduo diante do qual tirava-se o chapéu para reverenciá-lo como cidadão, como responsável pela formação de nossas crianças e, sobretudo, como veículo de informação de nossa história, da área geográfica espalhada pelos mapas-múndi, de como interpretar textos arrancados do cérebro criativo e da alma sensível de nossos poetas e escritores.
Se antigamente dava doze aulas semanais, e tempo tinha para prepará-las, hoje o professor virou caixeiro-viajante, porque, como um dos formadores de opinião, se vê cada vez mais achincalhado por nossos insensíveis governantes. Em 24 horas, para ganhar o amargo pão de cada dia, locomove-se para várias unidades de ensino, o que o impede de especializar-se como profissional da educação, quando essa deveria estar no topo dos que governam países e estados e municípios. E esses desconhecem o quão imprescindíveis são nossos educadores, na formação de nossas crianças, no conduzir nossos jovens, muitas vezes sem ter quem os oriente pelos ínvios caminhos de uma juventude sem freios, sobretudo desfalcada de líderes que tragam, dentro de si, a sublime vontade de servir.
É tarde da noite. E o professor volta para casa extenuado, sem mais sonhos para sonhar. De repente, não mais que de repente, dá um giro pelos jornais. Quem sabe, entre as nuvens do imprevisível, flutue algo de bom, algo que se chame esperança, ou quem sabe até a volta daquele passado radiante em que o professor era respeitado como uma das molas mestras do ensino. E tinha status. E tinha sua biblioteca particular. E viajava para o estrangeiro porque condições não lhe faltavam para conhecer países outros. Cansado, mas ainda cheio de ilusões, percorre as páginas do jornal. Olhos assustados, mal pode crer no que lê: “País só cumpre trinta e três por cento de metas da Educação”. E mais abaixo: “Relatório mostra que ainda há alta repetência, a taxa de universitários é baixa e o acesso à Educação Infantil está longe do proposto”. E o estudo foi feito por pesquisadores de universidades federais, que abrange o período de 2001 a 2008, incluindo dois anos do governo de Fernando Henrique, o intelectual frio, um ser pensante que só pensou em si mesmo e jamais se interessou pelos destinos da Educação; e um Lulinha, que adora falar “merdinha”, quando... quando... Bem, é melhor parar por aqui e encerrar o assunto com nosso poema, A crucificação do Professor, que retrata bem a dura realidade dos dias de hoje: Choque e cheque/ e xerox até/ no atestado de óbito/ de um infeliz professor./ Golpe profundo/ nos fundos de um saldo/ de um soldo minguado/ de um banco qualquer./ A vítima é o que vive,/ o vivo é o defunto/ que morre sem cotas/ com mais custos nas costas./ Caixão comprido/ de cumprida vida/ que se alonga fina/ por estreitos largos./ Morreu com nota,/ mas sem ser notado/ perdeu-se entre as pás/ sem encontrar a paz.
Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas
Publicada em 26/3/2010
Jornal Correio Popular
Opinião