• NOTICIAS

      07/05/2010 | Arita Damasceno Pettená - Opinião

      Um tema inesgotável

      Estamos vivenciando um dos meses mais ricos do calendário. Efemérides que registram, a partir de 1º de Maio, o Dia do Trabalho. E os nossos olhos se voltam para o trabalhador, esse arauto do progresso, esse obreiro de um mundo novo. E se voltam, nesse instante, para o carpinteiro José, pai de Jesus, que personifica a figura do trabalhador por seu aspecto humilde e, sobretudo, modesto. E não poderíamos falar em José sem nos reportar a Maria, a mãe-símbolo, a mãe lição de vida, aquela que enfrentou a morte de seu filho, de seu único filho, sem um gesto de revolta. E o viu cuspido. Esbofeteado. Crucificado. Quem de nós, mães, se portaria, com tanto estoicismo, com tanta certeza da ressurreição diante de seu filho morto? E diante da força dessa mulher, dessa mãe paradigma para o mundo, nós a saudamos nessa singela trova, de nossa autoria: “Ah! Em teu colo, Maria,/agasalho o meu cansaço,/e meu peito se extasia,/entre teus maternos braços”.

      Mudemos de cena. E são mais de 60 anos passados. Ei-los que voltam. E vêm desfilando. E vêm cantando: É 8 de maio de 1945: “Por mais terras que eu percorra /Não permita Deus que eu morra/Sem que volte para lá,/Sem que leve por divisa/Esse V que simboliza /A vitória que virá./Nossa vitória final,/Que é a mira do meu fuzil,/A ração do meu bornal,/A água do meu cantil,/As asas do meu ideal,/A glória do meu Brasil.”

      Agucemos agora nossos ouvidos. Estamos em 1932. É 25 de janeiro, uma data marcante para São Paulo, a grande aniversariante. E num comício, em resposta à ditadura Vargas, que sufocava a Nação, conclamando a todos que era preciso, mais que nunca, a volta à legalidade, Ibraim Nobre, um dos maiores oradores da epopeia paulista, em um magnífico pronunciamento, empolgava o povo, com o vigor da sua voz: “Minha terra, minha pobre terra! Mães paulistas, ensinai aos vossos filhos que o sangue nada vale pelo que corre humanamente nas veias, mas pelo que palpita divinamente no coração!”

      Em toda essa trajetória, entre santos e heróis, a figura da mãe. Sempre presente. Sempre cantiga. Sempre canção. Sempre poema. Quem já não ouviu falar das Mães da Praça de Mayo? Uma vez por semana, elas desfilam com a cabeça envolta por um lenço branco, trazendo, entre as mãos, uma folha de papel com uma foto... um nome... uma data... Mães, que, numa desesperada e silenciosa busca por seus filhos, foram batizadas pelo general Videla de Loucas. Mas dessa romaria constante, desse trabalho sem cessar, clamando por justiça, as Mães da Praça de Mayo conseguiram levar às barras do tribunal nove ex-comandantes militares. Dentre eles, Videla e Massera, que foram condenados, unicamente, dentre milhares de crimes, por 375 sequestros, 105 episódios de tortura, 33 roubos e 69 homicídios, sendo que os corpos das vítimas foram encontrados em um universo de quase 40 mil desaparecidos.

      Agora, de mãe para mãe, uma pergunta: será que nossos filhos fariam o mesmo por nós? Não busquemos respostas. Este é o nosso papel de mãe, de heroína, de mártir até, de santa às vezes, de musa de célebres poetas e trovadores. E tanto é verdade que Carlos Drummond de Andrade dizia que, se lhe fosse permitido baixar um decreto, eis os dizeres: “Mãe não deve morrer nunca”.

      Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas.

      Publicada em 7/5/2010
      Jornal Correio Popular
      Opinião
      Um tema inesgotável

      ARITA DAMASCENO PETTENÁ
      aritapettena@hotmail.com



  • VIP IN TOUCH

  • CONTACT

  • LINKS

  • Revista Vip Virtual

  •