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Levantamento do Condepacc listou 60 obras de arte em más condições nas praças de Campinas
A história de Campinas desaparece sob limo, lixo e pichação. O vandalismo e a falta de manutenção condenam os monumentos ao abandono. Quem visita as praças públicas dá de cara com obras encardidas, bustos manchados e bases de granito rabiscadas. Em alguns casos, peças e adornos simplesmente desapareceram. Nada menos que 60 monumentos precisam de intervenções, segundo levantamento detalhado do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc).
O problema fez com que a Prefeitura organizasse ações emergenciais de limpeza e a criação de uma política pública para a preservação efetiva do patrimônio.
“Campinas nunca teve uma secretaria responsável por este trabalho, uma sistemática de trabalho definitiva ou um cronograma de ações”, lamenta Daisy Ribeiro, da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), órgão de apoio técnico do conselho, que localiza e identifica bens culturais, como também ordena atividades no setor.
O exemplo clássico é o imponente monumento de granito picotado em homenagem a Campos Salles, ex-presidente da República. A obra, do escultor Iolando Mallozzi, foi inaugurada em 1934 no Largo do Rosário, mas acabou transferido na década de 50 para o início da avenida que leva o nome do político. Na época da mudança, o Centro passou por intervenções urbanísticas, como o alargamento de vias e remodelação de praças. Acontece que, na confluência com a Rua 11 de Agosto, ao longo dos anos, o monumento foi engolido pelo cenário decadente do redor. Pelo chão há pedaços de cobertores, fezes humanas, urina. O cheiro é insuportável. Os três espadins que apareciam nas imagens de homens fortes que sustentam nos ombros símbolos da República foram roubados. Nas mãos de bronze, só ficaram os “cabos”.
Perto dali, no coração da cidade, bem em frente à Catedral Metropolitana, falta manutenção ao charmoso monumento em homenagem a Dom João Nery, primeiro bispo campineiro. A obra, do escultor Fernando Frick, inaugurada em 1924, mostra o a imagem do religioso de corpo inteiro, com as vestes talares, sobre alegorias que representam em bronze as figuras de uma mulher e duas crianças, simbolizando instrução e caridade. Acontece que a própria base de bronze foi arrebentada. E, pelo rombo, as pessoas jogam lixo. Lenços sujos de papel, tocos de cigarro e até volantes de loteria se amontoam no vão.
Nem patrimônios públicos tombados escapam do vandalismo. O monumento em granito rosa em homenagem ao médico Thomaz Alves, na Praça Carlos Gomes, foi completamente desfigurado. Só restou o pórtico que sustentava o busto que sumiu. Também desapareceu uma das três estátuas em forma de mulher que representavam, respectivamente, a cidade de Campinas, a medicina e a gratidão. A obra do escultor Marcelino Velez foi inaugurada em 1925. Mas hoje, o granito serve de lousa para garranchos pichados e os quatro degraus estão imundos, pretejados, como se nunca tivessem sido lavados.
Tanto o busto como a imagem iam ser roubadas mas, como eram pesados, foram largados para trás. O diretor do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), Ronaldo de Souza, explica que hoje as peças estão embaladas, guardadas em uma sala do próprio DPJ, à espera da contratação de um restaurador. Depois de reformadas, elas serão recolocadas na praça.
O visual degradado também compromete outros bens tombados. Monumentos de Álvaro Ribeiro (no Largo do Pará), Hércules Florence (no Largo São Benedito), Carlos Gomes, Bento Quirino e César Bierrembach (os três homenageados em hermas ou monumentos da Praça Bento Quirino) estão igualmente abandonados. São bustos esverdeados de sujos, cheios de rabiscos, garranchos e manchas de tinta por todas as esculturas.
Técnicos irão definir um cronograma de intervenções
Técnicos do DPJ e do Condepacc vão se reunir até o final de junho para definir o cronograma emergencial de intervenções para a recuperação de monumentos na região central. No mesmo encontro, começa a ser debatido a criação de um programa de preservação, que vai reformar peças danificadas e contratar especialistas em restauro para a reposição de objetos roubados ou danificados. O mesmo projeto prevê a recuperação de coretos em praças históricas, com a reposição de adornos metálicos dos gradis trabalhados. Cada escola da cidade receberá também informações precisas sobre cada peça, e o que fizeram na vida os homenageados. O material didático, gravado em CD, foi levantado desde o começo do ano por Henrique Anunziata, historiador da CSPC, que levantou o histórico e a situação atual de cada um dos 60 monumentos de praças públicas. (RV/AAN)
Publicada em 3/6/2010
Cidades
Rogério Verzignasse
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
rogerio@rac.com.br