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      16/06/2010 | Pagu, figura revolucionária

      Uma figura de mulher que não pode ser esquecida, neste ano, quando comemoramos o centenário de seu nascimento é a de Patrícia Rehder Galvão, poeta, jornalista, escritora, artista plástica, de espírito inquieto e independente.

      Natural de São João da Boa Vista, onde nasceu a 9 de junho de 1910, teve o apelido Pagu dado pelo diplomata e escritor Raul Bopp, por ser mais atrativo e por favorecer a leitura dos poemas da escritora. Ainda estudante do Curso Normal da Capital, em São Paulo, estava integrada ao movimento antropofágico, de cunho modernista, sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Considerada uma das “musas do Modernismo”, casa-se com Oswald e ambos se tornam militantes do Partido Comunista e fundam o Jornal do Povo, órgão que procurou apoiar a esquerda revolucionária em prol de reformas necessárias. Às expensas do partido, numa de suas viagens ao Exterior, Pagu fez amizade com o último imperador da China, Pu-Yi, e, graças a este, trouxe algumas sementes de soja para o Brasil. Em 1935, por ocasião da Intentona Comunista, é presa e torturada por divulgar autores como Rosa Luxemburgo, Artaud, Apollinaire, Joyce, considerados subversivos, na época. Ao sair da prisão, em 1940, rompe com o partido e passa a defender um socialismo de linha trotskista, fazendo parte da redação de A Vanguarda Socialista junto com seu novo marido, Geraldo Ferraz. Por sua luta pelos ideais democráticos, foi comparada a Dolores Ibarri, a Passionaria, revolucionária espanhola que lutou na Guerra Civil Espanhola contra as forças de Francisco Franco.

      Pagu destacou-se também na literatura como romancista e poeta. Publicou o romance Parque Industrial, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, traduzido para o inglês pela Universidade de Nebraska, Estados Unidos e A Famosa Revista, em parceria com Geraldo Ferraz. Ao traçar sua biografia, Augusto de Campos procurou recuperar textos e desenhos dispersos em seu diário, em jornais, em artigos na imprensa e em outras atividades. Ao se inteirar da obra da valente polemista e agitadora de ideias, Augusto pôde admirar a excelência de seus poemas como A Natureza Morta e O sol por natural, publicados na revista Noigandres, com o pseudônimo de Solange Sohl. Escreveu também contos policiais, publicados na revista Detective, dirigida pelo jornalista Nelson Rodrigues. A verdade é que seus textos passam a ser temas para teses de mestrado.

      Nos últimos tempos, Pagu estava vivendo em Santos, contratada pelo jornal A Tribuna como crítica literária, teatral e de televisão. Nessa cidade, liderou as campanhas para a construção do Teatro Municipal, fundou a Associação dos Jornalistas Profissionais e criou a União do Teatro Amador de Santos, por onde passaram novatos como Aracy Balabanian, José Celso Martinez Correa, Plínio Marcos e outros.

      Muitos críticos, na época, achavam sua vida escandalosa — escandalosa, vamos convir, para os parâmetros de então, numa sociedade que não queria e ainda não quer ser perturbada no seu doce sossego — era também forma de afirmação pessoal, e mais, indícios de que os valores éticos e morais passavam por mudanças. Em 2004 sua memória foi salva pela catadora de rua Selma Morgana Sarti, em Santos, ao encontrar jogados no lixo fotos e documentos originais da escritora e de Geraldo Ferraz. A partir de então, com todo esse acervo de informações, é possível melhor pensar e reavaliar sua obra enquanto artista e intelectual atuante, defensora dos direitos humanos. Já foi retratada no cinema, interpretada por Carla Camurati no filme Eternamente Pagu, e na televisão, por Miriam Freeland, na minissérie Um só coração. Assim foi a vida dessa mulher, falecida em 12 de dezembro de 1962, ousada e independente que, se perturbou a sociedade paulista do seu tempo, também a encantou com suas ideias de liberdade e, sobretudo, com os direitos da mulher.

      Duílio Battistoni Filho

      Publicada em 16/6/2010
      Jornal Correio Popular
      Opinião

      Duílio Battistoni Filho é historiador e membro da Academia Campinense de Letras



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