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      09/07/2010 | Por São Paulo, pelo Brasil em 1932

      1932: 9 de julho. São Paulo se movimenta e se empolga. Jovens, mulheres, crianças e homens feitos têm em mente somente um ideal. Dar ao Brasil uma Constituição. Definir, por um documento aprovado pelos seus representantes, os direitos dos cidadãos brasileiros, para que não sejam pisoteados e reduzidos a frangalhos por um governo que se apresentava despótico e tirano, liderado por um ditador cuja vontade era a lei. Mas não só ter um ideal. Lutar por ele, se preciso for. Dar o sangue, a vida para que se tornasse realidade esse ideal. Verter lágrimas por entes queridos que em muitos casos não voltariam jamais, permanecendo apenas na memória de quantos aqui deixariam.

      E lutaram todos, cada qual fazendo o que podia. Nas trincheiras, onde muitos morreram. No recôndito de seus lares, as mulheres oravam não só pelos seus, mas por todos quantos arriscavam a vida no combate. E se esfalfavam na costura de uniforme, no preparo dos lanches para os soldados, na sua presença nos hospitais de campanha e no consolo daqueles cujos filhos, netos, maridos e noivos se foram ao longo dos caminhos. Mulheres chegaram mesmo a lutar, de armas em punho. Crianças, como o menino escoteiro Aldo Chioratto, nesta Campinas, morreram no afã de, sob o bombardeio, levar mensagens. Casais doavam suas alianças para que fossem derretidas dando o “seu ouro para São Paulo”. Nas fábricas, os trabalhadores que iam para a luta eram substituídos por mulheres que deixavam de fazer batom para fazer cartuchos para as balas. Capacetes de aço, bandoleiras, cantis, granadas de mão, munições substituíam as latas de óleo, o sabão e as ferramentas que se fabricavam. E esperava-se, mais que tudo, o reconhecimento de seus irmãos de outros estados, para que vissem que, por eles, por todos os brasileiros, é que se lutava. Não se pretendia separar São Paulo do Brasil, mas, sim, assegurar a um Brasil unido o primado da lei e não da vontade de um ditador.

      O que vale isto dizer para os jovens de hoje? Setenta e oito anos é tempo demais. Sequer haviam nascido nem mesmo os homens que hoje estão chegando aos 80. Por que então insistir em lembrar o Movimento Constitucionalista de 32? A resposta está em que, no mundo, e em especial na nossa América do Sul, estão aparecendo homens em altos postos de governo que professam as mesmas ideias que no passado causaram a epopeia de 32, que procuram calar a imprensa livre, fechando jornais e canais de televisão; procurando dar ao Estado que dirigem poderes que sufocam a iniciativa daqueles que querem fazer o País prosperar; que, sob a capa de medidas sociais para beneficiar os desvalidos, autorizam o absurdo de se permitir a invasão de propriedades, pouco faltando para que, amanhã, esse procedimento venha a ser adotado também contra as residências; criando programas que ilusoriamente ajudam os desvalidos, quando na verdade perpetuam sua condição, tornando-os clientes do governo; afagando e estimulando a corrupção em benefício dos grupos que integram.

      Uma lição velha, de 78 anos, está aí a dar o exemplo. Que os poucos veteranos que ainda sobrevivem daquela guerra que enlutou famílias — mas guerra aberta e não terrorismo, que se expressa por sequestros, assaltos a bancos e ocupações de prédios públicos — possam ver que a chama que bruxuleia nos tempos atuais seja avivada pelo sopro de um passado cheio de honra e de glória.

      Essa lição, que ao longo dos anos nos vem sendo transmitida pelo MMDC — a união dos veteranos de 32 — não pode desaparecer. Se os veteranos, na obediência da inexorável passagem dos tempos, vêm nos deixando, restando-nos, em Campinas, a liderança infatigável de Paulo Barros Camargo, que aos 95 anos é ainda o menino de 32, como os apoda aos veteranos Arita Pettená, com o carinho que é sua marca indelével, o seu ideal há de ser mantido e proclamado ao longo dos anos vindouros, imortalizado pelos seus pósteros, a lembrar com o nosso Guilherme de Almeida, poeta e soldado constitucionalista, que a Bandeira das Treze Listas traz “no seu topo vermelho o coração do Paulista”. Que não morra o ideal, nem o MMDC, que ainda hoje responde à convocação de que “você tem um dever a cumprir”.

      Agostinho Toffoli Tavolaro é presidente da Academia Campinense de Letras.

      Publicada em 9/7/2010
      Correio Popular
      Opinião
      Por São Paulo, pelo Brasil

      AGOSTINHO TOFFOLI TAVOLARO
      atavolaro@lexxa.com.br



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