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Quatro veteranos da Revolução Constitucionalista de 1932 foram as principais atrações, ontem pela manhã, da solenidade dos 78 anos da Revolução Constitucionalista. Francisco Mascaro, Natalino Augusto, Laércio Nogueira de Andrade e Paulo Barros Camargo, vestidos com boinas e fardas de gala, assistiram à execução de hinos e marchas por uma banda regimental da Polícia Militar e ouviram discursos de civis e militares. Os integrantes do quarteto, todos beirando um centenário de vida, exibiam medalhas na lapela e, conversando animados com os repórteres, lembravam episódios da campanha. Mas o evento, que acontece a cada dia 9 de julho, foi especial em 2010.
É que os participantes comemoravam os 75 anos do mausoléu do soldado constitucionalista (esculpido por Marcelino Vélez), e os cem anos do escotismo no Brasil. No monumento, na entrada no Cemitério da Saudade, foram sepultados os corpos dos 16 campineiros que perderam a vida na revolução.
O envolvimento dos escoteiros remete a outro capítulo do levante armado. É que um escoteiro de dez anos, Aldo Chioratto, morreu em 16 de setembro de 1932, durante um dos dez bombardeios áereos sofridos por Campinas. O alvo das tropas federais, na época, era a estação ferroviária, de onde partiam os batalhões que se entrincheiravam na divisa de São Paulo com Minas e Paraná.
A festa de ontem contou com a participação de dez grupos de escoteiros campineiros. Além de se manterem na formatura, ao lado das tropas da polícia militar, a garotada celebrava cada etapa do evento em palmas sincronizadas e gritos de guerra. A escotista Karoline Vital, de 21 anos, disse que o campineiro Aldo é um símbolo para todos os escoteiros campineiros. Tanto é que a imagem do menino estampava um banner. “O escoteiro aprende desde cedo os ideais patrióticos do movimento constitucionalista”, disse a jovem. O garoto Aldo, no dia do bombardeio, trabalhava na estação entregando correspondências do comando revolucionário.
Agostinho Tavolaro, presidente da Academia Campinense de Letras (ACL), filho de um combatente, contou que, menino, ouvia os pais falando de detalhes do movimento cívico histórico, que mobilizou não só tropas, como toda a sociedade civil. “Não foi uma revolta paulista. Eram ideais brasileiros. Um basta às imposições de um ditador (Getúlio Vargas) e a exigência do respeito a uma constituição”, disse.
Outros parentes de soldados se aproximaram do púlpito e doaram fotos, documentos e peças históricas, que vão se juntar ao acervo de um museu especial da revolução, montado pela Polícia Militar no quartel da Vila João Jorge (8º BPM-I). A poetisa Aritá Pettená, como nos anos anteriores, declamou uma poesia do campineiro Guilherme de Almeida, famoso por ter transformado em versos a epopeia.
Um momento especial da celebração deixou o público emocionado. Detrás do mausoléu, apareceu marchando um soldado com rifle nos ombros, vestindo uma farda de época. Ele permaneceu parado em posição de sentido na frente do monumento. Ao microfone, o mestre de cerimônias fez a “chamada”dos 16 campineiros mortos em 1932. A cada nome, o soldado respondia: “Presente!”. A cena deixou muita gente com nó na garganta.
‘Valor precisa ser passado aos filhos’
Ex-combatente se diz emocionado ao ver o patriotismo no rosto dos jovens
Os campineiros homenageados ontem fazem da cerimônia um evento obrigatório, todos os anos. Andam arqueadinhos. Há quem use óculos de lente grossa ou aparelho no ouvido. Mas o entusiasmo pela festa nunca diminui. Laércio Nogueira de Andrade, por exemplo, que aos 11 anos começou a trabalhar como ascensorista no Jockey, faria carreira promissora no clube. Pois, aos 19 anos, teve coragem de se alistar e pegar nas armas.
Francisco Mascaro, que no ano que vem completa cem anos, era, de longe, o mais divertido de todos os veteranos. Com a blusa pesada (de tantas medalhas penduradas), ele contou que guerreou em trincheiras de São José do Rio Pardo, sua cidade natal. Ele, que teve 11 filhos (‘e nem sei quantos netos’) disse ontem que era um prazer imenso ouvir as marchas, sentir no rosto dos soldados jovens o patriotismo da sua geração.
A solenidade contou com a volta do veterano Natalino Antônio Augusto, que cheio de saúde e disposição, já completou um século de vida. Ele retirou o traje de gala do armário depois de seis anos ausente. A neta Ângela contou que em 2003 Augusto perdeu a mulher (dona Zuleica) e o filho Sérgio. “Ele ficou abatido. Por isso é muito importante que ele se sinta motivado de novo para celebrar. Meu avô tem muita história pra contar, passa horas falando da campanha paulista. A família se orgulha muito dele”, disse.
Paulo Barros Camargo, conhecido veterano que preside o núcleo campineiro da Sociedade Veteranos de 32 MMDC, disse que a cidade não pode deixar de celebrar o movimento cívico, mesmo quando ele e os outros veteranos tiverem partido. “É um valor que precisa ser passado aos filhos, aos netos”, disse. (RV/AAN)
Publicada em 10/7/2010
Correio Popular
Cidades
Rogério Verzignasse
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
rogerio@rac.com.br