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      24/08/2010 | Cracolândia: legalização para coibir o vício?

      Palestra com o Repórter Fotográfico Fernando Donasci, no dia 24.08  no auditório da Câmara Municipal de Campinas.

      Fernando Donasci convive com o que chama de “morto-vivos”, que são os usuários de crack.O jornalista assiste os viciados a definhar nos arredores de sua casa há pelo menos 15 anos, no centro de São Paulo. Na reportagem multimídia feita pelos fotógrafos da Reuters, Paulo Whitaker e Fernando Donasci, que usando de abrigo um hotel e uma casa em processo de demolição, na região, registraram imagens em foto e vídeo da Cracolândia paulistana (se é que existe alguma outra desse jeito em outra cidade).
       
      Fernando Donasci
       
      Sempre quis fazer uma matéria mais profunda sobre o crack, porque realmente não conseguia ver a solução para o problema.  A segurança pública fala que é um problema de saúde, e a saúde fala que é um problema de segurança.


      Fiquei uma semana indo todos os dias na região da cracolândia, no centro de São Paulo, para mapear onde eu o Paulo Whitaker poderíamos ficar trabalhando com o máximo de segurança possível. Queria poder fazer o trabalho sem ser notado por ninguém, pois caso o contrário nossa vida ficaria ameaçada. Contatei o síndico de alguns prédios e os hotéis próximos a Estação da Luz e região. Em nenhum momento eles nos viram fotografando. Nem mesmo os funcionários dos hotéis souberam o que estávamos fazendo.


      Havia uma demolição programada pela prefeitura, próximo a antiga rodoviária, onde será desenvolvido o projeto Nova Luz. Nessa região nós ficamos por um bom tempo, porque tinha uma visão mais ampla da área.


      As entrevistas e as fotos que fiz das mulheres grávidas usuárias de crack me entristeceram bastante. As situações que presenciei com essas mulheres foram tão fortes que o minidocumentário quase que foi dedicado completamente a este assunto. A maioria dessas mulheres fica grávida se prostituindo em troca de dinheiro para a compra da droga. E essas crianças nascem viciadas em crack e sofrem inclusive com sintomas de abstinência.


      Outra coisa que observei foi que não existe mais um “traficante” de crack (a figura daquele cara que fica na famosa "boca" esperando chegar cliente, como acontece com outras drogas). Os próprios usuários são os que repassam a droga. E crianças e mulheres grávidas são os principais “traficantes”, exatamente por não chamarem atenção da polícia.


      O dinheiro não é a única forma de comprar a droga. Eles trocam por roupas velhas e utensílios domésticos. Segundo os próprios usuários,  é mais fácil arrumar roupa e objetos pedindo nas casas das pessoas do que dinheiro para comida. As pessoas são mais solícitas em atender outras necessidades que não as financeiras, e não fazem idéia que o produto final daquela doação será o crack de qualquer forma.


      Eu não entendia  por que os usuários de crack se aglomeravam daquela forma. Pensava: ‘Que tanto de gente junta’. Mas eles me explicaram que é porque cada um fornece um objeto para consumo da droga:  Um tem o cachimbo, outro o isqueiro, outro o crack, o outro um cigarro...

      O mais triste é que mesmo depois de semanas observando de perto o sistema do crack, ainda não consigo imaginar uma solução.


      Fonte: Enviado por  Ricardo Lima
      Repórter Fotográfico
      ricardolilica@gmail.com
      19.92155519





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