NOTICIAS
Não é novidade que Campinas sempre foi vítima da destruição de seus bens culturais. A simbologia da qual emergiu o sentido de cidade culta, talvez seu bem maior, foi principalmente devido aos teatros e aos grandes espetáculos que eram neles promovidos. A realidade é que os grandes teatros foram demolidos e os atuais estão sucateados. Entre nós, poucos administradores tiveram a sensibilidade da preservação e da promoção de melhorias na área cultural.
No momento, causa estranheza a notícia de que está decidida a transferência do MIS para espaços da Estação Cultura (antiga Fepasa) com base em estudos de técnicos da Prefeitura e do Condepacc.
O Museu da Imagem e do Som de Campinas, já foi diversas vezes vítima desse transtorno. Que parece obsessivo compulsivo! Criado em 1975, esse órgão da Secretaria Municipal de Cultura só foi implantado em 1978. Em sua primeira década se transformou em um dos pontos mais relevantes da cultura campineira. Tinha por finalidade a documentação e preservação da memória cultural da cidade, mas também promovia sessões de cinema de arte no Teatro Castro Mendes. Por razões ainda não esclarecidas, o dinâmico MIS foi retirado de sua primeira sede, no Centro de Convivência Cultural, e transferido para um espaço absolutamente improvisado, num visível motivo para interromper seu funcionamento habitual.
Assim, de um lugar para outro por quase 15 anos, o MIS conseguiu finalmente se reestruturar e, em 2004, conquistar sua sede definitiva. Foi a Administração Municipal anterior à atual que, ao reinaugurar o Solar do Barão de Itatiba — Palácio dos Azulejos — decidiu implantar no seu interior a sede do MIS, alegando razões culturais e históricas, com muita justiça.
Bem, se em 2004 o reconhecimento do MIS veio à tona, na atual Administração tem sido o reverso. Desde o começo da atual gestão, esse órgão da Secretaria de Cultura tem sofrido interferências muito negativas, como a transferência de funcionários efetivos e especializados, sem reposição. Como se não bastasse essa intervenção de anos atrás, agora projetam retirar-lhe a sede.
A verdade é que, se a transferência noticiada se concretizar, haverá um prejuízo incalculável para as funções do MIS, atingindo a comunidade que dele se serve, ou seja, pesquisadores de todos os níveis, do informal aos estudantes secundaristas e universitários, inclusive pós-graduandos. Sem falar dos que frequentam suas atividades, justamente por sua localização, no Centro Histórico de Campinas. O que torna a questão mais dramática, também, são as ocorrências que permeiam uma mudança desse porte: danos aos acervos, desarranjo do mobiliário, e até questões que dependam de verbas.
Vale lembrar o exemplo do Casarão do Café. Em 2003, a Campinas Decor recuperou o casarão do Lago do Café, para realizar ali seu evento anual. Passados alguns anos, resta o que? O abandono do imóvel em meio a uma vegetação carregada de carrapatos. Tudo por falta de manutenção e cuidados com o Museu do Café, que ali se encontra deteriorando. De grão em grão, a cidade vai perdendo suas referências culturais.
É lamentável, mas precisamos relembrar que Campinas vive tentando superar suas grandes perdas. São desgastes da identidade sóciocultural, que sempre cuidamos de restaurar ou evitar. A demolição do Teatro Municipal Carlos Gomes é considerado o maior de todos os desastres na área cultural. Mas, se aprofundarmos, encontraremos na história campineira muitos danos do mesmo tamanho. Para nós, contemporâneos dessas ações, caberá o dever do alerta. Às futuras gerações restará, quem sabe, o desejo de desvendar as razões que motivaram a descaracterização da cultura de sua cidade. Ainda bem que a História tem memória.
Dayz Peixoto Fonseca é pesquisadora cultural e escritora
Publicada em 24/8/2010
RAC
Opinião