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Quando eles partiram, ninguém teve forças para impedir-lhes que fossem. Já não tinham vida. Já não tinham ação. Já não tinham alma. Partiram porque há sempre na vida uma hora de partir. E se é verdade que quem parte deixa saudades, a deles ficou maior e mais dorida ainda porque era um adeus que valia a um nunca mais.
Voltaram ao pó de que eram feitos. Misturaram-se à areia de um sepulcro. Ocultaram-se, enfim, na terra que haviam pisado tantas e tantas vezes. E suas almas? Ah! essa coisa misteriosa e imaterial que se chama espírito! Estaria dormindo com eles? Estaria fazendo parte de um outro ser? Ou estaria na imensidão de um céu azul já antegozando o prêmio de ter vivido uma vida cheia de conflitos?
Ninguém sabe. Ninguém viu. Tudo na vida é tão efêmero que nem o próprio tempo pode impedir a trágica fugacidade das coisas. Um belo dia somos lançados no mundo. Vegetamos a vida a fazer perguntas sem respostas: Quem sou? Para que sirvo? Vale a pena viver? E as perguntas ficam sem eco porque este se perde nas fronteiras do indizível. O mundo se torna cada vez mais estranho e, muitas vezes, nem o sentimos sob o peso de nossos pés. Nossa peregrinação pela terra assemelha-se cada dia que passa a uma dura cavalgada. Instantes há que a palmilhamos de um modo passivo, submisso, mas há outros — estes mais frequentes — que nossas débeis forças humanas se libertam das comportas de nosso ser em gritos de revolta e de angústia. É o instante supremo em que reconhecemos que toda a nossa vida foi intercalada de expectativas, de dúvidas, de anseios. Raros são os momentos que sentimos, dentro de nós, o vislumbre de uma esperança. A gente vive uma existência toda à espera de que algo bom se nos aconteça e, um dia, somados todos os anos, chega-se à triste realidade de que esse algo nunca passou de um sonho fantasmagórico, de uma ilusão caída de vencida. Chega-se, enfim, à melancólica conclusão de aquilo que tantos repetiram “a morte é o grande prêmio da vida” é a mais patente das verdades.
Hoje, pelo mundo inteiro, um sino triste há de tocar finados. Pés hão de cruzar pelas estradas do mundo para reverenciar aqueles a quem Deus premiou com o descanso eterno. Haverá rosas e lágrimas e uma saudade enorme em cada olhar que ficou. Nas campas frias e solitárias, muita mãe há de chorar sentida o fruto de suas entranhas. Muito filho há de recordar, em pranto, o pai ou a mãe que se fizeram ausentes. Muita gente há de prantear o companheiro de tantos anos que dorme o sono eterno na laje fria de um cemitério. Uma prece silente e fervorosa há de subir até o infinito a rezar pelas almas dos mortos queridos. E no misterioso azul de um céu primaveril, sem que os vejamos, eles hão de dizer, em murmúrios de ternura: — Não choreis por nós que partimos. Já não sofremos injustiças, desencantos, decepções, amores fingidos. Já não nos consumiremos, como vós, no drama de cada dia, na luta contra a opressão, na luta contra o egoísmo, porque a morte nos libertou do jugo das misérias humanas. Aproveitai vosso tempo a amar constantemente o vosso irmão e só assim estareis fazendo parte do grande plano de Deus.
Publicada em 2/11/2010
Correio Popular
ARITA DAMASCENO PETTENÁ
aritapettena@hotmail.com
Arita Damasceno Pettená é presidente da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas