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      14/11/2010 | Projeto de Sebá Torres abre discussão!

      Projeto abre discussão sobre política na escola Câmara de Campinas aprova inclusão do tema na rede municipal.

      Um projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal de Campinas suscitou a discussão sobre a forma como a política é ensinada e repercutida dentro das salas de aula. O projeto, que é autorizativo, ou seja, pode ou não ser posto em prática, prevê a “inclusão como atividade curricular da formação política nas escolas da rede municipal de ensino no município de Campinas”. A coordenadora do curso de pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Márcia Sigrist Malavasi, é favorável ao tema, porém, faz ressalvas. “Esse conteúdo é extremamente importante. Porém, vai depender de como essa disciplina será implantada”, salienta.

      O autor da proposta, vereador Sebá Torres (PSB), conta que a intenção não é “doutrinar” os estudantes, mas “buscar a discussão do assunto entre a garotada”. “Atualmente, não formatamos líderes. Onde se promove a discussão política hoje em dia? Em lugar nenhum. Por isso é importante levar a formação política às escolas”, diz.

      O ideal, segundo ele, seria o projeto ter início entre os alunos da 5 série do Ensino Fundamental e contar com a supervisão da direção da escola e da Secretaria Municipal de Educação, que ficaria responsável pela preparação dos professores. O vereador afirma que o único custo seria com a formação dos docentes. “É um projeto de lei de inclusão, para formar pessoas com a prerrogativa crítica e cidadã”, afirma.

      Na escola particular Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, os alunos recebem essa formação política dentro das disciplinas de filosofia e sociologia. “Com a sociologia, há um maior debate e, com as eleições, a abordagem foi ainda mais enfática. Os alunos perguntam muito e muitas aulas ampliaram a discussão sobre política”, conta a coordenadora pedagógica do Ensino Médio da escola, Ana Cláudia Ribeiro da Motta Cortez.

      A forma como é abordado o tema no Liceu segue o conceito defendido pela especialista Maria Márcia Malavasi. “Há um planejamento de como será abordado. Por exemplo, é explicado como o presidente governa com ou sem apoio do Senado ou do Congresso, o que é uma bancada, porque são necessários os apoios, como se aprovam as leis e assim por diante”, diz Ana.

      Para ela, a inserção da política na grade curricular é esclarecedora para os alunos. “É importante mostrar que votar em um candidato apenas porque gosta dele não é a maneira correta de avaliar. O valor do voto é importante. É importante escolher um candidato porque pensa de uma maneira objetiva e não apenas pela aparência”, salienta.

      Um fator a ser superado, entretanto, é o ambiente familiar. “Há pais que têm a visão equivocada de que os filhos serão influenciados a votar em algum partido ou candidato de acordo com a postura que a direção da escola assume, e não é bem assim”, diz Maria.

      O vereador Torres critica o distanciamento político da população e cita esse cenário como um dos motivos de seu projeto. “É preciso reaproximar as pessoas da política, desde cedo, e a educação é um começo para que diminua esse afastamento do tema”, afirmou.

      O coordenador de comunicação da Prefeitura de Campinas, Francisco de Lagos, entretanto, não adiantou se o projeto será ou não sancionado pelo prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT). “Normalmente esperamos, chegar o conteúdo nas nossas mãos para analisar e tomar uma decisão. Antes disso não é possível afirmar nada”, disse.

      Aulas devem despertar para o interesse coletivo

      A falta de capacidade de análise do brasileiro em um contexto geral nas últimas eleições é uma das principais críticas e também um dos maiores motivos da defesa da inserção da política na grade curricular feita pela professora Maria Márcia Sigrist Malavasi, da Unicamp. Segundo a especialista, esse fator foi fundamental na falta de debates verdadeiramente esclarecedores e que interessassem ao povo como Nação, e não como indivíduos.

      “A sociedade tem conspirado para trabalhamos individualmente: seja o melhor da sua turma, se precisar passe por cima de seus colegas. É uma geração formada para buscar o sucesso, mesmo que seja individual. Uma sociedade que se baseia nisso está fadada ao fracasso”, alerta. Ela ressalta também que é desde esse ponto que parte a importância da orientação política nas escolas.

      “Nos viciamos a compreender a política não como uma ciência, mas como estratégias de perdas e ganhos, organizações partidárias e candidatos que estão todo o tempo em disputa, quando na verdade o que importa é a organização de pessoas para buscar um objetivo comum”, explica. E isso, segundo ela, pode ser aplicado em classe na simples organização da sala de aula, da escola ou a votação de um determinado projeto escolar. “Além dos professores, a escola precisa saber como vai se organizar para incluir isso dentro de si, e como as famílias serão orientadas para também contribuírem com esse ensino”, diz.

      Maria observa que a implementação positiva desse projeto depende de um bom sistema de ensino. Esse modelo ideal conta, segundo ela, com a maior permanência dos alunos nas escolas para aplicar tudo o que aprendem. “Não adianta ótimas ideias, bons professores se a escola não se organiza para ter tempo para a criança poder aprender tudo aquilo. Se os devidos cuidados não são tomados, há riscos grandes para o insucesso da proposta.” (ND/AAN)

       

      Publicada em 14/11/2010
      Cidades
      Natan Dias
      DA AGÊNCIA ANHANGUERA
      natan.dias@rac.com.br





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