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Projeto abre discussão sobre política na escola Câmara de Campinas aprova inclusão do tema na rede municipal.
Um projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal de Campinas suscitou a discussão sobre a forma como a política é ensinada e repercutida dentro das salas de aula. O projeto, que é autorizativo, ou seja, pode ou não ser posto em prática, prevê a “inclusão como atividade curricular da formação política nas escolas da rede municipal de ensino no município de Campinas”. A coordenadora do curso de pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Márcia Sigrist Malavasi, é favorável ao tema, porém, faz ressalvas. “Esse conteúdo é extremamente importante. Porém, vai depender de como essa disciplina será implantada”, salienta.
O autor da proposta, vereador Sebá Torres (PSB), conta que a intenção não é “doutrinar” os estudantes, mas “buscar a discussão do assunto entre a garotada”. “Atualmente, não formatamos líderes. Onde se promove a discussão política hoje em dia? Em lugar nenhum. Por isso é importante levar a formação política às escolas”, diz.
O ideal, segundo ele, seria o projeto ter início entre os alunos da 5 série do Ensino Fundamental e contar com a supervisão da direção da escola e da Secretaria Municipal de Educação, que ficaria responsável pela preparação dos professores. O vereador afirma que o único custo seria com a formação dos docentes. “É um projeto de lei de inclusão, para formar pessoas com a prerrogativa crítica e cidadã”, afirma.
Na escola particular Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, os alunos recebem essa formação política dentro das disciplinas de filosofia e sociologia. “Com a sociologia, há um maior debate e, com as eleições, a abordagem foi ainda mais enfática. Os alunos perguntam muito e muitas aulas ampliaram a discussão sobre política”, conta a coordenadora pedagógica do Ensino Médio da escola, Ana Cláudia Ribeiro da Motta Cortez.
A forma como é abordado o tema no Liceu segue o conceito defendido pela especialista Maria Márcia Malavasi. “Há um planejamento de como será abordado. Por exemplo, é explicado como o presidente governa com ou sem apoio do Senado ou do Congresso, o que é uma bancada, porque são necessários os apoios, como se aprovam as leis e assim por diante”, diz Ana.
Para ela, a inserção da política na grade curricular é esclarecedora para os alunos. “É importante mostrar que votar em um candidato apenas porque gosta dele não é a maneira correta de avaliar. O valor do voto é importante. É importante escolher um candidato porque pensa de uma maneira objetiva e não apenas pela aparência”, salienta.
Um fator a ser superado, entretanto, é o ambiente familiar. “Há pais que têm a visão equivocada de que os filhos serão influenciados a votar em algum partido ou candidato de acordo com a postura que a direção da escola assume, e não é bem assim”, diz Maria.
O vereador Torres critica o distanciamento político da população e cita esse cenário como um dos motivos de seu projeto. “É preciso reaproximar as pessoas da política, desde cedo, e a educação é um começo para que diminua esse afastamento do tema”, afirmou.
O coordenador de comunicação da Prefeitura de Campinas, Francisco de Lagos, entretanto, não adiantou se o projeto será ou não sancionado pelo prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT). “Normalmente esperamos, chegar o conteúdo nas nossas mãos para analisar e tomar uma decisão. Antes disso não é possível afirmar nada”, disse.
Aulas devem despertar para o interesse coletivo
A falta de capacidade de análise do brasileiro em um contexto geral nas últimas eleições é uma das principais críticas e também um dos maiores motivos da defesa da inserção da política na grade curricular feita pela professora Maria Márcia Sigrist Malavasi, da Unicamp. Segundo a especialista, esse fator foi fundamental na falta de debates verdadeiramente esclarecedores e que interessassem ao povo como Nação, e não como indivíduos.
“A sociedade tem conspirado para trabalhamos individualmente: seja o melhor da sua turma, se precisar passe por cima de seus colegas. É uma geração formada para buscar o sucesso, mesmo que seja individual. Uma sociedade que se baseia nisso está fadada ao fracasso”, alerta. Ela ressalta também que é desde esse ponto que parte a importância da orientação política nas escolas.
“Nos viciamos a compreender a política não como uma ciência, mas como estratégias de perdas e ganhos, organizações partidárias e candidatos que estão todo o tempo em disputa, quando na verdade o que importa é a organização de pessoas para buscar um objetivo comum”, explica. E isso, segundo ela, pode ser aplicado em classe na simples organização da sala de aula, da escola ou a votação de um determinado projeto escolar. “Além dos professores, a escola precisa saber como vai se organizar para incluir isso dentro de si, e como as famílias serão orientadas para também contribuírem com esse ensino”, diz.
Maria observa que a implementação positiva desse projeto depende de um bom sistema de ensino. Esse modelo ideal conta, segundo ela, com a maior permanência dos alunos nas escolas para aplicar tudo o que aprendem. “Não adianta ótimas ideias, bons professores se a escola não se organiza para ter tempo para a criança poder aprender tudo aquilo. Se os devidos cuidados não são tomados, há riscos grandes para o insucesso da proposta.” (ND/AAN)
Publicada em 14/11/2010
Cidades
Natan Dias
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
natan.dias@rac.com.br